A Economia de Francisco: Uma economia ao serviço das pessoas

A Economia de Francisco, entre outras coisas, reunirá, em Assis, jovens até aos 35 anos com peritos de renome na economia mundial, mas com uma particularidade muito concreta: pensar e conversar sobre a economia com pessoas que já olham para a economia tendo em conta dimensões como a justiça social, a questão ambiental, a família e colocando a dignidade dos trabalhadores no centro das respostas. Ou seja, uma economia pensada ao serviço das pessoas e não as pessoas ao serviço da economia.

Este encontro é, para mim, mais um momento de uma das características bem vincadas do Papa Francisco: DESAFIAR-NOS. Desafiar-nos a dialogar e a pensar o nosso Estar no Mundo com um novo estilo de vida, um diferente modo de viver.

E com esta proposta vem também um combate à globalização da indiferença que passa pelo respeito pelo outro e por nos sentirmos parte de uma história maior na qual somos responsáveis uns pelos outros.

E esta é a grandeza e ao mesmo tempo a dificuldade, que é pedir-nos que vivamos algo que sai de nós e que está muito para além de nós: Não nos esquecermos que vivemos num mundo que se alimenta e que pulsa por causa das nossas relações familiares, pessoais, espirituais, profissionais, … temos que parar de ver o mundo com uma relação unipessoal.

Por outro lado, a economia não pode ser vista apenas como lucro. A economia pode e deve criar valor, mas, ao mesmo tempo, tem que procurar a justa distribuição desse mesmo valor criado. A equação económica tem que trazer as pessoas para o centro da resposta. Variáveis como Pessoa, Justiça, Verdade, que já fazem parte do dia a dia de todos nós, devem ser equacionadas na economia.

E é também nisto que a Laudato Si’ nos dá uma grande ajuda ao falar da Economia como relação, como comunhão, levando-nos até ao ponto de partida que é esta Casa Comum que todos habitamos. É aqui, na Casa Comum, que estamos nós (as pessoas), que está o meio ambiente e que estão os recursos e os bens. E é no modo como usamos e somos todas estas três coisas nas nossas vidas que podemos ter uma economia que produza valor.

A Laudato Si’ leva-nos a questionar o modelo atual de economia não o considerando, nem o único, nem o adequado para o mundo em que vivemos, bastando olhar ao nosso redor e constatando que tudo está em desequilíbrio: Recursos como a água a escassear, pobreza e desigualdade a aumentar…

A Economia de Francisco vai questionar mas, sobretudo, mostrar a interdisciplinaridade, a importância e o papel da RELAÇÃO, também na Economia. E leva este modo de pensar a um novo patamar que é o meio universitário, provocando mudanças nos modos de liderar e de viver de quem, daqui a uns anos, estará à frente das empresas, a dar aulas, a ser um Ser Social.

No fundo, a Economia de Francisco pede-nos que sejamos radicais e mudemos o nosso estilo de vida e nada como visitarmos bons exemplos como Francisco de Assis: homem rico que se despoja de tudo e se dedica a melhorar a vida dos outros. Cristo é outro bom exemplo. Se tivermos Cristo presente nas diversas dimensões da nossa vida, passamos também nós a ser diferentes e radicais pelo exemplo que podemos deixar na procura da justiça e da verdade nas nossas relações.

Se procurarmos um modelo económico que nasça da comunhão de relações baseadas na justiça teremos uma economia que traz vida e valor! O Encontro de Assis é, sem duvida, um pacto para a mudança da economia atual em que o Papa Francisco quer os jovens como protagonistas da mudança.

O tempo da criação

De 1 de setembro (Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação) a 4 de outubro (solenidade de S. Francisco de Assis), ocorre a iniciativa ecuménica mundial O tempo da Criação, em que o Papa nos convida à oração e encoraja na procura de novos caminhos para Igreja e para uma ecologia integral, com especial atenção à Casa Comum.

Pede-nos Francisco que se dê vida à Laudato Si’ procurando novas respostas num novo modelo económico e dando à natureza o devido lugar nas nossas relações não a considerando uma mera moldura da nossa vida.

O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral convida todas as comunidades a promover iniciativas em espírito ecuménico, neste ano especial do 5º Aniversário da Laudato Si’, “para responder ao grito da terra” e “ao grito dos pobres”.

Trata-se de uma grande oportunidade para proteger a nossa Casa Comum, tomando consciência do nosso papel de guardiões, ou seja, da nossa vocação e responsabilidade de cuidadores da criação.

No âmbito do Jubileu 2020, o Mensageiro de Santo António promove no dia 3 de outubro, às 19:15, mais um Diálogo com António 2020, desta vez sob o tema “O tempo da criação”. Este Diálogo decorre no mosteiro de Santa Cruz com transmissão em direto nas redes sociais.

Foto da capa: Menina indiana em Bangalore, Índia, 22 de março de 2018, no Dia Mundial da Água realizado anualmente para chamar a atenção para a gestão sustentável dos recursos de água doce . EPA / JAGADEESH N.

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