A Igreja tem insistido de várias formas no tema ‘acolher’ como meio de evangelização. De facto o Papa Francisco escreveu amiúde sobre o assunto, lembrando o que Jesus fez durante a Sua vida pública. Mil exemplos podemos lembrar para ilustrar este modo de vida.
Assalta-me sempre a experiência que tenho tido a oportunidade de viver no contacto com muitas pessoas com várias perspectivas acerca do sentido da vida, nomeadamente algumas que se afirmam ‘ateias’. Como falar de Jesus Cristo a quem não acredita?
Uma possível abordagem é falar da doutrina da Igreja, supostamente o espelho de Cristo. Não creio ser a via mais eficaz, pois com ela se apresenta apenas uma prática vivida a partir de um conhecimento de fé que só colhe para quem é ativo na Igreja.
Outra possível abordagem é a de coerência de vida com o que Cristo viveu e ensinou. Essa coerência espelha-se na prática do dia-a-dia, simples e despojada, como pessoa imperfeita e igual aos outros em tudo, excepto na confiança e fé em Cristo. A própria noção de Deus aparece espelhada na confiança no grande mistério que é a Criação.
Ganhando o sentido mais profundo da Vida, seguimos não apenas Jesus homem, mas Jesus, o Cristo. Seguir Jesus homem, qualquer pessoa é capaz de o fazer, mesmo ‘ateu’.
Conheço várias pessoas que se dizem ‘ateus’, mas que têm um sentido de vida que não difere muito daquele que os crentes em Jesus Cristo têm. São pessoas que defendem e praticam os valores fundamentais da vida, do respeito e da promoção do próximo. Apenas lhes faltará conhecer Jesus na Sua essência. Muitos deles identificam Jesus com a imagem que têm da Igreja. Por isso, cabe-nos distinguir bem o que é obra da Humanidade e obra de Jesus, pois a Igreja é composta por pessoas, na sua imperfeição e diversidade.
Por vezes, preocupamo-nos muito com a prática ou a aparência, em vez de aprofundarmos a realidade transcendente que nos move, por Cristo. Não basta, por isso, ter as ‘leis’ e cumpri-las, dando-lhe roupagens mais ou menos sérias e contritas. O cristão não é um ‘sofredor’, pela sua condição de ‘pecador’. É um pecador, no sentido de imperfeito e sempre buscador da felicidade através de Cristo. Mas, sobretudo, é alguém que descobriu Jesus, o Cristo ressuscitado. O que faltou ao jovem rico que não conseguiu seguir Jesus por não ser capaz de se despojar dos seus bens, foi perceber o alcance do que Jesus lhe proponha. Contudo, Mateus, Zaqueu, a Samaritana, ou outros tantos que se converteram como S. Paulo, eram proscritos, mas, a partir dum simples gesto de Jesus, perceberam que o caminho era diferente do que trilhavam.
Acolher é lidar com a diferença que o outro nos apresenta. Não é impôr ideias, mas propôr o que nos move em direção a Deus, através dos outros.
Gostaria de ser mais capaz de fazer o que Mateus foi capaz de fazer…