Celebra-se este ano, pela primeira vez e por iniciativa da Comissão Europeia, o Ano Europeu do Património Cultural.
Na apresentação que é feita desta iniciativa destacam-se três grandes linhas para esta celebração. A primeira relaciona-se com a promoção da diversidade e do diálogo interculturais e da coesão social; a segunda chama a atenção para o papel do património no desenvolvimento social e económico e nas relações externas da União Europeia; finalmente, a terceira, pretende motivar os cidadãos para os valores comuns europeus.
Na página portuguesa da internet, entretanto criada para divulgação e dinamização desta celebração, podemos ler a seguinte afirmação:
O património cultural rodeia-nos permanentemente nas nossas cidades, nas nossas vilas e aldeias, nas nossas ruas, nas paisagens, nos monumentos, museus, palácios e sítios arqueológicos… mas não se resume aí. O património cultural está na literatura, na arte, nos objectos, nos ofícios tradicionais, na música, no teatro, no cinema, na gastronomia, nos ambientes e no espírito dos lugares…O mundo digital dá-nos novos olhares sobre tudo isto, liga-nos a outras culturas e a outras mentalidades. No AEPC 2018 pretendemos conhecer ainda melhor a diversidade e a riqueza dos nossos valores e ultrapassar fronteiras.
Celebrar o património é celebrar a vida concreta das pessoas e dos povos
Na verdade, não é preciso fazer um exercício muito complexo de reflexão para percebermos que ao falar-se deste modo do património cultural, no fundo, do que se está a falar é da vida concreta das pessoas e dos povos.
Celebrar este património é, então, celebrar, a vida concreta naquelas realidades em que ela se traduz, mas também naquelas dimensões que a inspiram.
É precisamente esta dupla perspectiva que gostaria de destacar. Para conhecer verdadeiramente a cultura de um povo, não basta conhecer os seus modos de vida, sendo igualmente necessário ser capaz de compreender o significado que este mesmo povo atribui aos seus modos de vida. Ficar pelos modos de vida seria o mesmo que ficar ao nível epidérmico, sem ir mais fundo, na tentativa de chegar àquilo que inspira, motiva e da razão de ser a esses mesmos modos de vida.
A cultura, qualquer que ela seja, implica sempre os modos de vida e os esquemas de significação. Verdadeiramente a cultura não está só relacionada com os ‘produtos/objetos’ em que ela se traduz, mas com o próprio processo de os refletir, compreender, produzir.
A fé cristã faz parte do património cultural da Europa

herança cultural intangível, Malta
Se ousarmos fazer esta reflexão no contexto da fé cristã, julgo que seremos capazes de descobrir desafios importantes a ter presentes e a desenvolver no contexto da celebração deste ano europeu.
A fé de um povo também não se concretiza apenas nas diversas ‘obras’ produzidas. Elas são, de facto, de tal modo importantes que acabam por ser constituintes da própria identidade desse povo.
A este nível é muito fácil ver como a fé cristã faz parte do património cultural da Europa de um modo tão abundante e evidente que se torna impossível ignorar esta realidade por parte de quem queira ter uma atitude minimamente séria. Mas isto não chega.
Importa viver a fé como esquema de significação, dando nova forma aos modos de vida
Na celebração deste Ano Europeu do Património Cultural julgo que não nos podemos contentar só com esta dimensão. É necessário, é mesmo primordial, que as comunidades cristãs, testemunhem e vivam a fé como esquema de significação, ou seja como realidade capaz de dar forma, nova forma, aos modos de vida.
Se disto formos capazes, a fé cristã não será só aquela realidade que, no passado, marcou o património edificado por essa Europa fora, mas continuará a ser dinâmica vital capaz de inspirar os processos de conhecimento, reflexão e produção, ou seja, continuará a gerar novos modos de vida, capazes de construir uma Europa diferente.
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