Católico, sem mais, quer dizer universal. Tal quer dizer tudo. Tal pode não dizer coisa alguma de significativo. Por si só, o termo é meramente descritivo e não identifica grande coisa. Um ateu pode ser católico quanto ao seu modo de pensar a justiça, mantendo o sentido de que deve ser universal. Tal faz dele não um crente religioso, mas um crente na possibilidade da universalidade da justiça: uma justiça católica.
Dizer que se é católico, não afirma, assim, grande coisa quanto ao possível modo cristão de alguém. A Igreja Católica é católica porque segue um mandato, que crê divino, logo, indiscutível como tal, de labor no sentido do bem de toda a humanidade, sem exceção, mas, também, sem violência: este catolicismo fundamental é um fim de bem e de paz, nunca um modo imperial ou tirânico.
O possível bem divino que a Igreja procura para todos não é passível de ser imposto, apenas proposto, a fim de ser aceite em plena liberdade.
Sem tal, não há Igreja em trabalho de bem, apenas uma qualquer seita tirânica em trabalho de construção de um império mundano, indiscernível de qualquer outro. Todavia, todos estes, sem Deus, pois nada desta mundanidade diz respeito ao labor caridoso e gratuito de Deus para connosco, através de nós.
Ora, se a Igreja – esta, a do pacífico labor humano-divino em favor do católico bem da criação – é constituída por pessoas, no que de mais singular cada pessoa é, todavia, não há Igreja apenas com esta isolada singularidade. Igreja quer dizer assembleia, Igreja é necessariamente algo de político, de relação de e entre pessoas. Tal não significa que seja um jogo perverso de poder, de imposição tirânica. Mas este último modo é apenas um de entre infinitos de se ser político, de se relacionar o humano com o humano.
O modo próprio de a Igreja ser política, de se ser como assembleia, é o bem-comum, modo que necessariamente nunca é perverso, pois implica que todos laborem no sentido objectivo do bem de todos, assim assegurando indiretamente o próprio bem. Deste modo é a comunidade política matriz cristã, catolicamente perfeita, a Sagrada Família.
Poderá haver esta comunidade sem que todos caminhem livremente em harmonia, em sinfonia? Não, não pode.
Então, ser Igreja, como ativa comunidade de bem-comum, implica sê-lo na forma de caminho em conjunto, de literal syn-hodos, de sinodalidade.
A Igreja, para poder ser verdadeiramente Católica, tem de ser em modo de ato sinodal. Todavia, não é um caminhar em conjunto qualquer, é um caminhar em conjunto constituído por atos de amor. Uma política de atos de amor. Utopia? Então, nunca houve Sagrada Família. Então, acredita-se, exatamente, em quê?

Para poder caminhar em amante sínodo cristão, há que, primeiro, limpar o possível caminho a percorrer. Ou, se for caminho a trilhar, esse que nunca foi antes percorrido, então, há que limpar bem os pés e o motor-ânimo de esses que vão trilhar.
O primeiro passo é erradicar a mentira, diabólica meretriz que sempre desregula a bússola dos caminhantes. A mentira de se dizer cristão e não se ser capaz de amar, de romper com o movimento de poder-para-si. Há que morrer, a cada instante, no cruzeiro dos possíveis caminhos, escolhendo sempre a luz, sabendo sempre que os vários ‘lúciferes’ nunca transportam luz alguma, vivendo eles sempre na ilusão de que podem vencer com o seu desejo de trevas o absoluto da divina luz. Não podem. Nem com a nossa ajuda.
O caminho comum católico em Igreja segue a luz que Deus espalhou e espalha no mundo. O mais não interessa.
Foto da capa: JMJ Panama 2019. Foto C. Filipe – Santuário de Fátima.
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