No dia 26 de setembro, o Centro de Reflexão Cristã (CRC) organizou um encontro preparado como um contributo para saber Como ler o processo sinonal. O encontro teve lugar no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, e foi amplamente participado, com uma daquelas salas cheias de antes da pandemia. Intervieram como oradores o padre Peter Stiwell, diretor do Departamento de Relações Ecuménicas e Diálogo Interreligioso do Patriarcado de Lisboa, o juiz conselheiro jubilado do Tribunal Constitucional, José Sousa Brito, autor da Lei de Liberdade Religiosa, e a jovem Maria Inês Gonçalves, estudante, paroquiana de Santa Isabel em Lisboa e colaboradora do Ponto SJ, o portal dos Jesuítas em Portugal.
A sessão foi moderada pela jornalista da Agência Ecclesia, Lígia Silveira, que fez uma contextualização inicial acerca do Sínodo, com o rigor e a síntese do bom jornalismo. A sua participação informada e indagante enriqueceu a tarde. As quatro intervenções estão disponíveis no Youtube, no canal do Centro de Reflexão Cristã.
Destaco duas ideias. De José de Sousa Brito, as boas práticas da Igreja alemã, cujos bispos tiveram a coragem de chamar os leigos para decidir com eles. Para Sousa Brito, esse é o grande objetivo do Papa Francisco: uma Igreja em que todos participam nas decisões, um caminho sinodal para uma Igreja sinodal.
De Peter Stilwell, a constatação de que a palavra “Jesus” e a palavra “Cristo” aparecem de forma residual nos relatórios das dioceses e no Relatório de Portugal (2 vezes no relatório da Diocese de Lisboa, 3 vezes no relatório da CEP). Segundo o padre Peter Stilwell, não devemos perder de vista o grande desafio do Sínodo: como é que nós nos temos de ajustar de maneira que, nas circunstâncias que são sempre novas, a presença de Jesus Cristo se reflita na Igreja que somos, como resposta às ansiedades e às procuras que tantos de nós, senão todos, vivemos.
A minha percepção é de que o Sínodo em Portugal teve um amplo impacto nas paróquias e consequentemente nas dioceses. O resultado de muitas assembleias sinodais está disponível, por exemplo, no site do jornal 7 Margens, e ler e reler alguns dos relatórios das dioceses ajuda-nos a conhecer diferentes experiências de igreja e cada realidade particular.

O que dizer de novo que ainda vá a tempo? Que há de novo para dizer e que tempo é este? Poucos dias antes da escrita deste brevíssimo texto, o Papa Francisco anunciou que o Sínodo se prolongará por mais um ano. O tempo é relativo, ouvimos dizer muitas vezes, mas o tempo é também concreto, sabemos pela experiência que vivemos. Precisamos de falar sobre as coisas e o processo sinodal apresentou-nos um método, um calendário, uma estratégia de escuta e de fala, de reflexão profunda e alargada.
Acima disse que tinha a perceção de que o Sínodo teve um amplo impacto nas paróquias. Mantenho-o, mas com a consciência de saber que essa experiência de Sínodo não foi, não está a ser igual em todos os lados. Aliás, é surpreendente até pensar a quantidade de pessoas da Igreja, a quantidade de fiéis que vão à missa, e que continuam afastados do processo sinodal. Por falta de interesse pessoal, ou por falta de um chamamento amplo e inclusivo. Há ainda pessoas a quem as palavras Sínodo ou sinodal não dizem nada, porque a elas são estranhas como língua e como experiência.
O colóquio que o Centro de Reflexão Cristã organizou permitiu ter acesso a diferentes leituras sobre o processo sinodal porque toda a leitura da realidade depende também de um olhar interprepretativo único e singular, que cada um de nós tem. É portanto a confluência de diversos olhares que nos dá uma leitura, assumidamente complexa, dessa realidade.
Convido os leitores do Mensageiro de Santo António a procurarem escutar estas vozes também.
Foto da capa: Ângelus e anúncio da abertura das inscrições da JMJ 23. Foto Vatican Media, 23 out 2022.
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