Chamo-me Rita e sou missionária há 24 anos. Sou do Porto, mas vivi em Coimbra 5 anos, já sendo missionária. Agora vivo nas Filipinas há 1 ano e meio. Neste momento, estou a aprender a língua nacional, o Tagalo. Resido na região de Pangasinan, uma zona rural que fica a norte de Manila.
Aqui o povo é pobre, muito acolhedor, generoso e com muita fé. Este é um país maioritariamente católico. À exceção de Timor Leste, não há mais países católicos na Ásia.
As pessoas lutam diariamente pela sobrevivência, os salários são muito baixos e a única perspetiva de futuro dos jovens é sair do país para trabalhar, enviar dinheiro à família e, assim, possibilitar os estudos de outros membros da família. É também um povo que vive com muita dignidade e higiene. A fé fá-los fortes, lutadores, generosos e acolhedores.
No mês passado ardeu completamente a casa de uma família nossa amiga. Perderam tudo, ficaram apenas com o que tinham vestido. Impressionou-me a reação de todos eles, incluindo a filha adolescente: viveram a perda com muita serenidade. A generosidade do povo também se fez notar. Cada um apoiou com o que podia, começando pela comida, a roupa, utensílios da casa e dinheiro; a ajuda foi tão efetiva que já começaram a construir uma nova casa.
Na minha comunidade, Servidores do Evangelho da Misericórdia de Deus, dedicamo-nos à evangelização e ao acompanhamento de cada pessoa, ajudando-a a perceber qual é a sua missão e a vivê-la. Para isso, damos formação humana e espiritual, organizamos missões e retiros, e oferecemos acompanhamento humano e espiritual.
Colaboramos na catequese e, graças à ajuda do exterior, também apoiamos economicamente os estudos de cerca de 25 jovens. Trabalhamos essencialmente com jovens.
Vou contar-vos acerca de uma atividade que nos deu muita satisfação. No passado mês de fevereiro, recebemos aqui um grupo de jovens, dos quais dez eram japoneses e outros dez sul-coreanos, para participarem numa Missão nos bairros. Os coreanos eram católicos, mas os japoneses na sua maioria não conheciam a fé.

Desde o período de preparação, contámos com o apoio dos jovens filipinos que fazem uma caminhada connosco. Para os que vinham era o seu primeiro encontro com um país católico e com a realidade da pobreza. Para os de cá era um passo mais de responsabilidade no acolhimento e na realização das diversas atividades.
Com todos eles tivemos momentos culturais, lúdicos, de oração, preparámos jogos e catequeses para crianças, visitas a famílias, visitas a doentes, visitas a escolas para um intercâmbio cultural…
O fruto desses 10 dias, para os que não eram de cá, foi para alguns um encontro pessoal com Deus, para outros descobrir o valor da sua vida.
Uma jovem japonesa expressava no final da missão que se tinha sentido “pessoa” pela primeira vez. Na exigente cultura do Japão não se sentia valorizada pelo que era. Um coreano batizado expressava que pela primeira vez se tinha encontrado com um Deus pessoal que o amava.
Ao ver o sofrimento dos jovens que vinham de países ricos, os jovens filipinos aprenderam a valorizar as suas famílias, a amizade, as relações humanas e a solidariedade.
Para os jovens filipinos esta experiência ajudou-os a descobrir o valor da sua fé, a riqueza humana e os valores que têm como povo. Alguns expressavam que se tinham surpreendido ao ver o sofrimento dos jovens que vinham de países ricos e diziam que isso os fazia valorizar as suas famílias, a amizade, as relações humanas e a solidariedade, valores que lhes são dados pela fé.
A mim comoveu-me descobrir que os jovens asiáticos são muito profundos e espirituais, mesmo entre culturas tão competitivas como as da Coreia do Sul e do Japão. Vi-os sedentos de sentido e abertos a aquilo que lhes “faz bem”.
Também me encheu de alegria poder ser testemunha dos passos de crescimento de cada um deles.
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