A tradição dos tronos de Santo António tem origem na extraordinária resposta da população de Lisboa ao terramoto de 1755. A igreja de Santo António ficou muito danificada e os habitantes da cidade mobilizaram-se prontamente para a sua reconstrução. Os decretos reais permitiram alargar a recolha de esmolas a todo o reino e a tradição refere que as crianças da cidade de Lisboa também se quiseram associar, erguendo pequenos altares junto das soleiras das casas durante o período das festas dos santos populares, pedindo “uma moeda para o Santo António”.
No século XIX, o pedido “cinco milreizinhos para a cera do Santo António” era utilizado pelas crianças para pedir dinheiro que gastavam em guloseimas e fogos-de-artifício, que se juntava à folia do período das festas de Santo António, que incluía “a contagiosa vivacidade dos descantes, das guitarras, dos balões de cores, das gaitas e assobios de barro” (Alfredo Mesquita, Alfacinhas, 1910, p. 138).
Lisboa enfeitava-se para receber o seu Santo mais querido, seguido agora pelo peditório do “tostão para o Sant’António”, que as crianças estendiam por todo o mês de junho. Os tronos eram feitos com caixas de cartão ou com bancos baixos, embora as capelistas da Baixa vendessem pequenos tronos de madeira, assim como decorações de chumbo ou madeira (velas, vasos, cruzes, sacrários, etc.). As imagens do santo, em barro, eram geralmente muito imperfeitas e nos tronos mais pobres eram substituídas por estampas de papel.
O século XX veio consolidar a presença dos tronos nos bairros tradicionais e o popular concurso dos Tronos de Santo António promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, a partir de 1949, ficou até hoje profundamente marcado na memória bairrista da população que nunca deixou morrer esta tradição.
Nos últimos anos o Museu de Lisboa – Santo António tem promovido uma exposição de rua de Tronos de Santo António, desafiando todos os lisboetas a armar um trono e a colocá-lo junto da porta de casa.
Estamo-nos a aproximar da festa de Santo António de 2020, e com as restrições impostas pelo confinamento, a tradição dos Tronos não irá esmorecer, antes pelo contrário, será alargada a todo o país. Neste ano de exceção, o Museu de Lisboa – Santo António irá convidar as pessoas a armar um trono de Santo António, mas desta vez retomando o formato de concurso, desafiando todos os residentes em território nacional a usar materiais reciclados e sobretudo muita imaginação, para fazer parte de uma grande exposição online que inaugura a 13 de junho.
As inscrições e regulamento estão disponíveis nas plataformas online do Museu de Lisboa, Cultura na Rua e EGEAC. Contamos com a sua participação para que este ano, em junho, Portugal se encha de Tronos de Santo António.
Fotos da capa:
À esquerda: Trono de Santo António, 1959. Fotografia de Armando Serôdio (Arquivo Municipal de Lisboa).
À direita: Trono de Santo António, 2019. Casa de Fado Dragão de Alfama, freguesia de Santa Maria Maior (na imagem António Carlos e Ana Carvalho). Fotografia de Nuno Gonçalves/MLSA.