As imagens da cidade de Lisboa inundada de jovens certamente ainda estão bem presentes na nossa memória e, não tenho dúvidas, perdurarão por muito tempo. A Jornada Mundial da Juventude foi um acontecimento de grande sucesso.
Mesmo muito daqueles que a puderam acompanhar sem a perspetiva da fé coincidem em grande medida nessa análise. Ainda bem que assim foi. Isso deve deixar-nos muito contentes e é um requisito mesmo muito importante para o que tem de vir a seguir.
No Vídeo do Papa do mês de agosto, mesmo nas vésperas do início da Jornada, Francisco tinha deixado um forte apelo: “Gostaria de ver em Lisboa uma semente do mundo do futuro. Um mundo onde o amor esteja no centro, onde nos possamos sentir irmãs e irmãos”. E isso é o que tem de vir a seguir. Isso é para mim um dos grandes critérios para podermos perceber o real impacto da JMJ. Como acontecimento, já o disse, foi um sucesso, agora teremos de ver se o é também desde o ponto de vista das dinâmicas e processos de transformação do mundo, da sociedade e da Igreja, ou seja, se é a tal semente do mundo futuro. Claro que ainda é cedo para fazermos essa análise, pois será necessário passar bastante mais tempo para podermos perceber em que terreno ela caiu, como vai ser cuidada e de que modo vai germinar.
Quanto aos critérios para fazer essa avaliação julgo que os poderemos encontrar nas diversas mensagens que o papa Francisco foi partilhando em Lisboa. Faço apenas referência a alguns, que vou buscar a diversos momentos.
No Centro Cultural de Belém fez referencia a três estaleiros de construção da esperança nos quais devemos e podemos trabalhar todos unidos: o ambiente, o futuro, a fraternidade.

Na homília proferida no Mosteiro dos Jerónimos indicou três opções: fazer-se ao largo, levar juntos por diante a pastoral, tornar-se pescadores de homens.
Na Universidade Católica incentivou-nos a arriscar e procurar de modo a sermos protagonistas da dança da vida, ousando uma “nova coreografia” que coloque no centro a pessoa humana.
No discurso de acolhimento, no Parque Eduardo VII, lembrou que cada pessoa é chamada pelo seu nome e que na Igreja ninguém pode ser de sobra, ninguém pode estar a mais, havendo espaço para todos.
No Bairro da Serafina afirmou que a caridade é a origem e a meta do caminho cristão e que deve sempre ser traduzida em gestos concretos, destacando três aspetos: fazer juntos o bem, agir no concreto, estar próximo dos mais frágeis.
Na Via Sacra dirigiu uma pergunta para ser respondida por cada um no seu íntimo: Choro eu de vez em quando? Há coisas na vida que me fazem chorar?
Em Fátima referiu que a Igreja deve ser a casa da alegria, apontando a capelinha como uma bela imagem da Igreja acolhedora, sem portas, para que todos possam entrar, porque é a casa da mãe e uma mãe tem sempre o coração aberto para todos os seus filhos, sem excluir ninguém.
Na Vigília incentivou todos os presentes, e eram mesmo muitos e vindos de todas as partes do mundo, à constância do caminhar preocupando-se em ajudar a levantar todos os que estão caídos.
No encontro com os voluntários, agradeceu o imenso e dedicado trabalho pedindo a todos para que continuassem a cavalgar as ondas do amor, sendo surfistas do amor. E confiou uma nova tarefa; que o serviço prestado na Jornada seja a primeira de tantas ondas de bem.
Estes são alguns dos indicativos que devem servir-nos de referência para percebermos como está a germinar a semente do futuro.
Deixo para o fim a referência á homília de Francisco na Missa de Envio. Nela soa uma pergunta: que levamos connosco ao regressar à vida quotidiana? Uma pergunta que me parece verdadeiramente essencial, pois terminado o encontro, quando cada um já está de novo nas rotinas do quotidiano, é o momento oportuno para começar a discernir o que é necessário mudar. À pergunta o papa respondeu com três verbos: resplandecer, ouvir, não temer.
Resplandecer − porque precisamos de lampejos de luz que forneçam esperança para enfrentar os desafios e nesse sentido afirmou que
Tornamo-nos luminosos, resplandecemos quando, tendo acolhido Jesus, aprendemos a amar como Ele. Amar como Jesus: isto torna-nos luminosos, isto leva-nos a fazer obras de amor. Não te deixes enganar, minha amiga, meu amigo! Tornar-te-ás luz no dia em que fizeres obras de amor. Ao contrário quando, em vez de fazer obras de amor aos outros, só pensas em ti mesmo como um egoísta, então a luz apaga-se.
Ouvir – porque o segredo está em escutar Jesus.
Escuta Jesus! Porque nós, mesmo quando com boa vontade nos embrenhamos por caminhos que até parecem ser de amor, em última análise não passam de egoísmo mascarado de amor. Cuidado com os egoísmos mascarados de amor! Escuta-O, porque Jesus dir-te-á qual é o caminho do amor. Escuta-O.
Não temer – porque isso é aquilo que o próprio Jesus diz a cada um.
Ele que vos conhece, conhece o coração de cada um de vós, conhece a vida de cada um de vós, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. E hoje aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude, Ele diz-vos: «Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo!».
Há um mundo novo a construir e a tarefa parece ser imensa. Como podem os cristãos contribuir para essa missão?
Esse é um dos grandes desafios deixados pela Jornada e o modo como fomos capazes de lhe responder dará também conta do verdadeiro sucesso da mesma.
Foto da capa: Início do dia no Campo da Graça, antes da Missa de envio, 6 de agosto de 2023. Foto Sebastião Roxo | JMJ Lisboa 2023
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