Texto de Rosário Portugal
publicado na secção Fala o Leitor, Diário de Coimbra, 1 DEZ 2021
Senhor Director,
Há muitos dias que ando a pensar escrever sobre um Homem que no dia 26 de Outubro nos deixou órfãos, pois foi para a casa do Pai: o nosso Frei Domingos, Domenico Celebrin!
Não é fácil, mesmo nada fácil escrever sobre uma pessoa tão especial.
Quando soube que iria para Itália, se já estava triste, pois foi no dia em que rezou a Missa do 7º dia de minha irmã, fiquei ainda mais triste. Como iria fazer falta!
Hoje, penso: Se tivesse ido para Itália, ficávamos à distância de um telefonema, de uma carta, de um email ou por uma simples mensagem e que se Deus assim quisesse, um dia voltaria.
E. .. não volta, não atende o telemóvel, não responde a um email e nem mesmo a uma simples mensagem.
Sofri duas enormes perdas, meu sobrinho com apenas 18 anos e, há 4 meses, minha irmã. Quem me ajudou a superar? O Frei!
Na Missa de Corpo Presente disse uma Homilia que deixou todos encantados e sem palavras. Pessoas que não costumam frequentar a Igreja vieram perguntar-me: Quem é?
Frei Domingos!
As suas palavras foram de tal forma que nos confortou a alma e ter outra capacidade para aceitar a partida. Foi lindo e que pena não ter sido gravado.
Agora, quando foi ele que partiu para junto do Papá, como eu adorava quando ele assim chamava Deus, olho para o céu e pergunto-lhe: E agora, Frei quem me ajuda a superar tamanha dor?
Que estranho. Preciso de quem durante anos e anos me amparou, me ampare agora, quando chegou a vez dele, de partir. Estranho, mesmo!
Há situações que nunca pensamos um dia viver. Esta é uma delas.
Por duas vezes na minha vida, a primeira há 25 anos, passava por tempos muito complicados e com frequência ia à Igreja de Santo António, quando ela estava vazia Um dia apeteceu-me confessar, falar com alguém. Vi um Senhor, fui ter com ele e perguntei se sabia a que horas havia confissões. Sorriu para mim, abriu os braços e respondeu, estou aqui. Era Frei Paulo!
Mais tarde, Frei Paulo foi para Chelas. Senti a falta das nossas conversas.
Passados alguns anos, outros tempos conturbados. E aconteceu precisamente a mesma coisa: Estava um Senhor na Igreja, fiz a mesma pergunta, que tinha feito a Frei Paulo e a resposta foi igual: Sorriso no rosto, abrir de braços e um, estou aqui. Frei Domingos.
Se havia pessoa nesta vida que me conhecia, que tudo sabia sobre mim, era ele. Nas horas difíceis, nas incertezas e nas alegrias, Frei Domingos estava sempre presente.
Com ele, cresci na Fé.
Quando meus filhos se preparavam para fazer a Primeira Comunhão, senti que não iria conseguir acompanhá-los, pois não frequentei a Catequese e o Frei convenceu-me a ir fazer a de adultos. Adorei! Noite de Catequese, já sabia que fazia enorme serão a ler a Bíblia. Quando ia ter com ele, pois volta e meia, minha cabeça dava um nó e não entendia, ia ter com ele, ria e dizia-me: Filha, estás a crescer!
O seu amor a Deus era contagiante, de tal forma que depois de fazer a Catequese, o Crisma, pessoas da família e amigos, foram contagiados por mim e lá foram também frequentar, mesmo alguns que tinham o Crisma feito.
Esta alegria de viver, este amor a Deus ele conseguia transmitir de uma forma impressionante.
Meus filhos frequentaram a Catequese até ao fim, até fazerem o Crisma. Nunca por imposição minha, mas sim porque eles assim quiseram Muita influência. de Frei Domingos.
Com enorme alegria, dele, minha e principalmente do meu filho é o seu Padrinho do Crisma que ele sempre acompanhou desde muito pequeno. Um dia disse-me: Se alguma vez tivesse tido um filho, gostaria que fosse igual ao Tomás.
No dia do Crisma, nosso Bispo Virgílio perguntou ao meu filho: Como conseguiste um Padrinho tão especial?
Realmente, a minha família teve o privilégio de ter um amigo assim. Fazia parte da família e esteve sempre muito mais presente do que a maioria dos que são do nosso sangue. Está e estará sempre em nossos corações, nas nossas orações. Sua fotografia está na nossa sala, para que possamos olhar para o seu rosto a toda a hora.
Ainda estou em negação, ainda me custa acreditar que ele não está fisicamente entre nós. Não sei se terei a sorte de encontrar amigo igual, seria sorte de mais. Só Deus sabe|
Obrigada, Frei Domingos, obrigada, pelo seu testemunho, pela sua sabedoria, pelo seu enorme coração e por nos ensinar amar a Deus acima de tudo.
Obrigada pelos anos de grande amizade, por me ter ajudado a formar meus filhos, que Graças a Deus são dois jovens que me enchem de orgulho.
Até um dia, espero ser digna de o encontrar e abraçar, quando Deus me chamar.
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