Como referi no último número, no ano de 1932, no mês de Fevereiro, os franciscanos chegaram, mais uma vez, em nova missão às terras da Guiné-Bissau. E recordava: “…eles partiram pobres e pobres regressaram, exceto os que lá ficaram para sempre”.
O Bispo Frei Vitoriano foi o primeiro a deslocar-se, em visita pastoral, às cristandades da Guiné-Bissau, onde foi por duas vezes. E ficou de tal maneira impressionado com as cristandades visitadas que segundo escreve o padre Rema: “… lá teria finalizado os seus dias como missionário se para isso tivesse obtido licença régia que solicitara mais do que uma vez”.
Sobre esta primeira visita, o próprio bispo faz um precioso relato sobre a sua atividade, publicado, no ano de 1974, pelo investigador Avelino Teixeira da Mota. Nesta visita, o bispo contacta com os cristãos de Bissau, Geba e outras comunidades ao longo do rio Geba. Preside a casamentos, crisma alguns cristãos e administra outros sacramentos. Alude ao ataque feito às instalações da comunidade dos franciscanos em Bissau e à perda de todos os seus haveres.
A segunda viagem é relatada por António Rodrigues da Costa, familiar do bispo Dom Vitoriano. Os cronistas da Província da Soledade tiveram acesso a estas fontes e dão-nos imensas informações sobre a vida das comunidades cristãs visitadas.
O relato do sobrinho do bispo é feito num estilo muito próprio, gongórico (como nos diz o padre Rema) e fornece ao leitor uma panorâmica interessante sobre a situação religiosa da Guiné. Lamenta a situação idolátrica dos Guineenses e a vivência islâmica de grande parte da população e congratula-se com o esforço dos missionários e dos governantes no sentido de os educar na fé cristã. Sobre a Ilha de Bissau informa da existência de uns estrangeiros, a que designa de “etíopes” mandingas, feitos missionários do Alcorão e ministros do “inferno”. Na Ilha de Bissau viviam mais de 20 mil famílias e muitas já tinham aderido às doutrinas de Maomé. O padre Rema recorda-nos: “… que os africanos tinham certa predileção pelos portugueses (que iam em missão de comércio) preferindo-os a todas as Nações da Europa no respeito e no afeto, de tal sorte que estas excediam a portugueses na alvura do corpo, só aos portugueses determinam com o apelido de brancos”.

Os africanos têm a noção da existência de um ser superior (Deus) a todas as criaturas e essências, mas também acreditam na existência de seres diabólicos a que chamam “chinas”, sacrificando-lhes animais e fazendo-lhes promessas.
Foto da capa: Missão Franciscana de Cumura
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