Durante uns dias tive a excelente oportunidade de perceber e sentir muito de perto o pulsar do Sínodo da Amazónia.

A ocasião proporcionou-se, pois a Universidade Católica Portuguesa esteve presente no espaço Tenda da Amazónia Casa Comum, com o qual se desenvolveram diversas atividades, umas de caráter mais reflexivo, como seminários, debates, palestras e testemunhos de missão, e outras de caráter mais cultural, como exposições fotográficas, apresentações de documentários e livros e diálogo acerca dos modos de vida das comunidades indígenas.
Com o Seminário Cuidar de todos, cuidar da terra. (N)A urgência de uma transformação cultural, no qual tive o privilégio de participar como um dos dinamizadores, desenvolveu-se um itinerário que cruzou a reflexão teológica e económica com a preocupação da sustentabilidade.
A partir de várias dinâmicas procurámos envolver os participantes num exercício de escuta e discernimento dos grandes desafios que se levantam hoje a uma Universidade Católica. Um dos grandes objetivos foi identificar gestos proféticos que pudessem ajudar todos os membros da comunidade académica a olhar para a formação universitária principalmente como sinal de maior responsabilidade perante os problemas que hoje se levantam às nossas sociedades, perante o cuidado dos mais pobres, perante o cuidado do meio ambiente.
O resultado do Sínodo a esta propósito ainda se está a construir, pois na altura em que escrevo estas linhas, apesar de já se conhecerem os relatórios dos diversos círculos menores, os trabalhos ainda não chegaram à sua conclusão, pelo que teremos oportunidade de voltar a refletir sobre estas questões.
O que quero, no entanto, partilhar nesta ocasião, e que é fruto do riquíssimo diálogo desenvolvido entre os participantes do seminário, é um pequeno texto, da autoria de Hamlet Lima Quintana, que foi lido por alguém que vive entre as diversas comunidades amazónicas. Deixo aqui a tradução do original espanhol.
Gente Necessária
Há gente que, com só dizer uma palavra,
acende a ilusão e as roseiras,
que, com só sorrir entre os olhos,
nos convida a viajar por outras zonas,
nos faz percorrer toda a magia.
Há gente que, com só dar a mão,
rompe a solidão, põe a mesa,
serve o cozido, coloca as grinaldas.
Que, com só empunhar uma guitarra,
faz uma sinfonia por toda a casa.
Há gente que, com só abrir a boca,
chega a todos os limites da alma,
alimenta uma flor, inventa sonhos,
faz cantar o vinho nos recipientes
e fica, depois, como se nada tivesse acontecido.
E assim, cada um pode enamorar-se da vida,
desterrando uma morte solitária,
pois sabe que à volta da esquina
há gente que é assim, tão necessária.
Sinceramente julgo que as transformações que temos de fazer ao nível das nossas sociedades e também ao nível da Igreja, se quisermos construir um futuro diferente, estão a exigir que nunca nos esqueçamos que a gente é necessária.
E ao falar de gente necessária, não estou a falar só de alguns (aqueles que normalmente são considerados os mais importantes), mas de todos, e especialmente daqueles que, muitas vezes, passam desapercebidos e são anónimos, porque habitam regiões (não só geográficas) que nos parecem longínquas.

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