Há pessoas que sabem tudo

Todos temos de lidar, nas nossas relações diárias, com pessoas que, por vezes, são antipáticas e, por outro lado, não devemos esquecer que também nós podemos ser antipáticos para com os outros.

A natureza colocou diante da língua como duas portas: os dentes e os lábios, para indicar que a palavra não deve sair senão com grande cuidado. Temos de dominar a língua, porque é faladora e andarilha, incapaz de ficar sossegada.

Se tivéssemos de esboçar uma tipologia de pessoas que despertam um sentimento particular de mal-estar, com toda a probabilidade concordaríamos em indicar aquelas que nunca se calam, que sabem sempre tudo, que se sentem na obrigação de explicar aos outros como são as coisas.

São pessoas que têm dificuldade em ouvir e estão sempre a interromper os outros quando falam. Além disso, como pensam que sabem tudo, nunca precisam de ajuda, têm dificuldade em pedir, agradecer, maravilhar-se com coisas novas e diferentes.

Na minha opinião, “pensar saber tudo” e nunca precisar dos outros, além de despertar um sentimento de antipatia, é um sinal de imaturidade.
Pessoas aparentemente tão confiantes em si próprias são, quantas vezes, frágeis e inseguras. Pelo contrário, aquelas que reconhecem não saber tudo, que precisam de perguntar, que não se importam de dizer a si mesmas e às outros “Não sei”; que sabem ficar caladas para ouvir opiniões diferentes das suas; que manifestam a sua gratidão com franqueza perante o dom de uma nova descoberta, estas, sim, são pessoas maduras! Maduras e simpáticas.

Sim, porque as pessoas que com sinceridade mostram a sua ignorância e contam com a ajuda das outras, são pessoas com as quais é agradável conviver.
Nalgumas situações, o uso exagerado da fala pode servir, também, para chamar a atenção, o que gera, sempre, uma certa irritação. A este respeito, as considerações de Santo António são particularmente saborosas, pois parecem ridicularizar os pregadores quando falam movidos pela ambição de se exibirem:

Quando pregam, modulam as suas vozes, multiplicam as citações, interpretam-nas à sua maneira, repetem-se e, sobretudo, desejam ser elogiados.

Infelizmente, esta é uma cena triste que se repete, também hoje, nos mais variados contextos e não apenas com os pregadores. Estou convencido de que prestar atenção e aprender com os outros é sinal de inteligência; e não só com as pessoas que consideramos doutas ou boas; mas também com tantos irmãos e irmãs que despertam em nós sentimentos de bonomia ou nos fazem sorrir.

De facto, é muito provável que uma atitude moralmente boa seja também simpática. Como é agradável o silêncio que escuta, a palavra que agradece, a declaração humilde das pessoas que – como as crianças – não têm vergonha de perguntar.

Foto da capa: Como são agradáveis o silêncio que escuta e a palavra que agradece. Foto master1305 – stock.adobe.com

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