Imo

Um artigo de Inês Santos e Gonçalo Oliveira


Questão. Numa caça ao tesouro, em que o tesouro é Deus, onde O vais encontrar? Dirás, “primeiro preciso de um mapa para o procurar”. Errado não está, mas inteiramente certo, também não. Como pode um tesouro tão resplandecente, não ser visível aos nossos olhos? A relíquia mais bela e deliciosa que traz luz à nossa vida. Estaremos cegos? Ou será que temos o nosso GPS interior avariado? Jesus mostrou-nos o mapa até Ele.

O problema é que cada um está a ler o mapa, não ao seu lado, mas de todos os outros infinitos ângulos. Os mais agudos, veem melhor, mas os mais obtusos estão a ler tudo do avesso. Isto traz-nos a uma segunda questão: a que ângulo (entenda-se distância) estamos de compreender o mapa de Jesus? Um problema que se impõe sobre outro, num encadeamento de questões. Não basta ter o mapa. É preciso saber lê-lo. Para encontrar Deus devemos aproximar-nos de Jesus. Só ao seu lado, na mesma perspetiva dos seus olhos, podemos vê-Lo. Este é um dilema de reflexão profunda. Daqueles que decorre numa vida.

A palavra imo significa o que está no lugar mais profundo/íntimo. Queremos acreditar que, no nosso imo, está Deus. A nossa intimidade é singular e, ao mesmo tempo, plural com Ele. O mapa que Jesus nos mostra não é bidimensional (2D), confinado num plano. Estende-se por uma infinidade de dimensões, que trazem profundidade e tempo. Profundidade essa que vai do nosso imo ao imo do outro. De um infinitesimal até outro infinitesimal. Por isso, dizemos que Deus é infinito e omnipotente. A Sua extensão é mais vasta que o nosso ser, mas abrange-nos, também. Liga-nos. Faz-nos parte do Seu reino.

A serenidade é um estado que nos permite chegar ao imo. Filtra todos os ruídos que possam abafar o batimento cardíaco. Ficamos mais calmos e atentos. A serenidade leva-nos à paz. À paz interior e com o próximo. Torna-nos empáticos, justos, não indiferentes. Permite que se atinja um estado de equilíbrio. Um entendimento e apoio comum. A serenidade ajuda-nos a amar, porque permite sintonizar batimentos cardíacos. Ajuda-nos, também, a compreender que tudo o resto se torna relativo se orbitarmos em torno de Deus, se muito amarmos, por muito seremos perdoados (Lucas 7:49). Para amar é preciso saber perdoar.

Portanto, se muito perdoarmos, por muito sermos perdoados, não é moeda de troca, da mesma proporção ou esfera! O perdão vem de um sentimento puro, não do nosso interesse. O perdão vem de Deus. E é por isso que temos de viajar até ao nosso imo para encontrar Deus e o perdão ao outro. Porque perdoar é ligar. E se acreditamos que Deus liga os nossos imos, então devemos acreditar no perdão. Este é o alicerce da nossa ação e vida como cristãos.

Continuamos em tempo de guerra e conflito no mundo. Em círculos de vingança e maltratos. Pessoas empedernidas que sentem que têm a putativa razão para magoar os outros. O ódio que brota é venenoso e corrosivo.

Dedicamos, este último parágrafo, à oração pelos corações duros, sem batimento, nem serenidade. Que eles encontrem arrependimento profundo e procurem perdão. Que se convertam ao amor de Deus, pelo próximo. Que Deus proteja os mais fracos, as vítimas, os inocentes, aqueles cuja vida foi colocada entre arame farpado. Ámen.


Foto da capa: O perdão vem de Deus. E é por isso que temos de viajar até ao nosso imo para encontrar Deus e o perdão ao outro. Porque perdoar é ligar.
Templo de Júpiter, Terracina, Itália. Foto MSA 2022

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