A aldeia de São José

Humberto Martins
Humberto Martins, casado , tenho três filhos.
Trabalho no Centro Paroquial da Mexilhoeira Grande há 12 anos. Tenho as funções de Encarregado Geral da Instituição.
O Centro Paroquial da Mexilhoeira Grande é uma IPSS, com valências para idosos e crianças, uma dessas valências é a Aldeia de São José de Alcalar, que destaco no texto. Atualmente servimos diariamente cerca de 140 Idosos e 150 crianças, nas nossas diferentes valências.
Na Encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco afirma que “quando a dignidade do homem é respeitada e os seus direitos são reconhecidos e garantidos, florescem também a criatividade e a audácia, podendo a pessoa humana explanar suas inúmeras iniciativas a favor do bem comum”.
Também o P. Domingos Monteiro da Costa, sj, ao sonhar com a Aldeia de São José de Alcalar, olhou primeiro para a necessidade de defender e amparar os mais vulneráveis e pobres desta freguesia.
Em meados da década de 70 do século passado, quando o P. Domingos Monteiro da Costa, sj, chegou à paróquia, a freguesia da Mexilhoeira Grande, apesar de ser a maior área do concelho de Portimão, era, como continua a ser, a freguesia com a mais baixa densidade populacional. Se hoje continuam a existir alguns problemas sociais, nesse tempo os problemas eram muito maiores. Dada a geografia rural da freguesia, os cinco lugares mais interiores, menos populosos, distantes uns dos outros, sem acessos viários entre eles e com o centro da freguesia, não dispunham de qualquer rede de apoio social. Os filhos saíam para fora à procura de melhores condições de vida, deixando os pais à sua sorte, sem garantia de qualquer apoio, quando a saúde e a idade não permitissem a autonomia. Muitos dos pais idosos viam o suicídio como única solução para a solidão em que viviam.
Foi neste cenário preocupante, numa freguesia sem qualquer apoio social e económico, que o P. Domingos Monteiro da Costa, sj, sonhou a construção da Aldeia de S. José, de Alcalar, para pessoas idosas, onde pudessem ter assistência para os problemas inerentes à idade, manter as raízes culturais, prolongar até ao fim da vida, não só a ligação à natureza e ao campo, como garantir e manter a comunhão, a autonomia e a privacidade do casal, mesmo tendo filhos deficientes.
Este conceito enquadra-se nas palavras do Papa Francisco, na Laudato Si’ (nº 22).
Tendo em conta que o ser humano também é uma criatura deste mundo, que tem direito a viver e ser feliz e, além disso, possui uma dignidade especial, não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação ambiental, do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas.
O modelo criativo, inovador e audaz, faz da Aldeia de São José um novo paradigma da Assistência à Terceira idade, não tanto pelo projeto de arquitetura, mas pela novidade de assistência social, prestada, nesta fase da vida, aos mais pobres e vulneráveis da freguesia.
Nela, cada pessoa idosa, cada casal e cada família, no caso de casais com filhos deficientes, pode encontrar numa das 52 moradias e nos verdes jardins que circundam todo o complexo, o que, normalmente, não encontram num Lar tradicional: liberdade, autonomia e privacidade.
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