Resumo
A cidade de Coimbra ocupa uma página importante da história da nação portuguesa e da própria Igreja. Não é por acaso que o primeiro e o segundo Reis de Portugal estão sepultados nesta cidade e também não é por acaso que os seus restos mortais repousam na igreja do Mosteiro de Santa Cruz, fundado pelo primeiro Santo português, S. Teotónio.
Este mosteiro e a Igreja de Santo António dos Olivais estão ligados pela figura de Santo António: de Lisboa, de Coimbra, de Pádua e de todo o mundo.
Esta ligação deve-se, em grande parte, aos Mártires de Marrocos, cuja devoção uniu a cidade aos monges e aos frades que, no dia da sua festa litúrgica, a 16 de janeiro, se juntavam para “cantar as horas canónicas e fraternizar num abençoado convívio”.
Passados oito séculos de história, surge agora a iniciativa do Jubileu que junta novamente as duas comunidades eclesiais, a de Santa Cruz e a de Santo António dos Olivais, num empenho comum de valorizar um legado histórico e espiritual, dando-o a conhecer à diocese de Coimbra e a todo o País e fazendo dele uma mais valia para um processo de renovação da Igreja e da sociedade civil.

Igreja de Santa Cruz e Igreja de Santo António dos Olivais
O mosteiro de Santa Cruz, especialmente entre os séculos XI a XIV, foi um ponto de referência indiscutível a nível cultural, religioso, político e social de Portugal. Podemos afirmar, ainda, que a Universidade de Coimbra assentou a sua base de cultura e de ensino na obra desenvolvida pelo Mosteiro de Santa Cruz e também devemos reconhecer que os Priores deste Mosteiro tiveram um papel importante na estrutura e na organização da Igreja.
A Igreja de Santo António dos Olivais, apesar de ter como orago Santo António, assenta a sua existência sobre uma pequena ermida, dedicada a Santo António Abade (Santo Antão), que, com o tempo, viria a tornar-se igreja e convento franciscano de Santo António dos Olivais, depois de o Cónego Regrante Fernando Martins de Bulhões se tornar frei António e ser canonizado pela Igreja, em 1232.

Santo António e os Mártires de Marrocos
A ligação entre o Mosteiro de Santa Cruz e a Igreja – Convento de Santo António dos Olivais deve-se à figura de Santo António, pois este Santo foi o filho espiritual mais significativo daquele mosteiro que, por sua vez, marcou com a sua passagem pelo ermitério dos Olivais, o convento franciscano que, nas suas vicissitudes, representou ao longo dos tempos um oásis de espiritualidade para a cidade de Coimbra.
O culto dos Santos Mártires de Marrocos foi desde sempre objeto de fervorosa devoção no mosteiro de Santa Cruz e representou um grande elo entre os monges crúzios e os frades franciscanos do convento de Santo António dos Olivais que, conforme reza a tradição, no dia da festa litúrgica dos Santos Mártires, a 16 de janeiro, eram convidados pelos monges a “cantar as horas canónicas e a fraternizar num abençoado convívio”.

O regresso dos franciscanos
Este culto e o respetivo elo entre monges crúzios e franciscanos, decaiu após a extinção das Ordens religiosas, em 1834. A igreja de Santa Cruz e a igreja de Santo António dos Olivais passaram para o clero diocesano, enquanto as dependências do Mosteiro de Santa Cruz e o convento de Santo António passaram para o Estado. Nos finais de 1974, a igrejade Santo António dos Olivais voltou novamente para o cuidado dos frades franciscanos.
Uma vez regressados a Santo António dos Olivais, os frades franciscanos conventuais procuraram reestabelecer a ligação espiritual com a Igreja de Santa Cruz. O momento mais significativo deu-se em 1996, quando as relíquias de Santo António, vindas de Pádua, passaram por Coimbra, nomeadamente pelas duas igrejas: de Santa Cruz e de Santo António dos Olivais. Foi um momento de grande devoção e comoção, sublinhado por uma numerosa participação de fiéis e entidades religiosas e civis.
Jubileu 2020
Em boa hora surge agora a iniciativa do Jubileu que junta novamente as duas comunidades eclesiais, a de Santa Cruz e a de Santo António dos Olivais, num empenho comum de valorizar um legado histórico e espiritual, dando-o a conhecer à diocese de Coimbra e a todo o País e fazendo dele uma mais valia para um processo de renovação da Igreja e da sociedade civil. Quais são as características deste processo?
Antes de mais não devemos esquecer que é o Espírito Santo o guia da Igreja e o animador da comunidade cristã. É Ele que sugere como atuar no tempo presente, é Ele que “conduz todos os homens ao verdadeiro conhecimento da fé e à unidade em Cristo”. Por isso, proclamar um Jubileu, em nome de grandes figuras da história do Povo de Deus, significa fazer tesouro dos ideais de vida destas figuras e aplicá-los com discernimento ao nosso tempo. Podemos resumir estes “ideais” em três pontos:
- O desejo – vontade de que Deus seja reconhecido, por todos os homens, como um Pai misericordioso e fonte da vida humana;
- O desejo – vontade de que os homens vivam como irmãos num mundo, casa comum, de forma respeitosa, justa e fraterna;
- O desejo – vontade de que a Igreja seja, no seguimento de Jesus, pobre, acolhedora, portadora do Amor do Pai e “serva dos servos de Deus”.
Numa palavra, estes “desejos – vontade” resumem-se na expressão que S. Francisco colocou no topo da Regra dos seus frades: “A regra e a vida dos Frades Menores é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, em castidade e sem nada de próprio”. Trata-se, enfim, de regressar à frescura e à alegria do Evangelho.
Santo António entendeu logo a beleza do Evangelho traduzido na vida pelos primeiros franciscanos e não esperou mais para associar-se a eles, tornando-se por sua vez um fulgente exemplo de vida evangélica e cristã.
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