Maria, a mulher – Maria, a rosa

Para um falante da língua inglesa, é quase incompreensível a razão pela qual, nas línguas latinas, definimos uma identidade sexual não apenas para os seres que a têm, mas também para os entes que não a podem ter, como é o caso de seres naturais inanimados, de objetos fabricados pelo engenho humano e até mesmo de conceitos.

Recordar-se-á que esta diferenciação existia já no próprio latim. É bem verdade; contudo, isso não nos desvenda o porquê dessa presença. A razão pela qual as palavras mar e pensamento são, em português, masculinas e, em francês, femininas, permanece enigmática para nós e absurda para os falantes de outros ramos linguísticos.
A rosa e o cravo, que são, em si mesmos, somente duas (das mais belas) flores, são popularmente consideradas símbolos do feminino e do masculino; recorde-se, por exemplo, no nosso cancioneiro popular de Natal o tema “Eu hei-de dar ao Menino”.

Nossa Senhora é frequentemente comparada a uma rosa e a ela lhe oferecemos orações (cada uma delas uma rosa), que, juntas, formam o rosário.

À rosa associamos a suavidade, a candura e a doçura da Virgem em todos os momentos descritos nos Evangelhos em que acolhe a vontade de Deus na sua própria vontade, tornando-se deste modo o templo sagrado onde o Senhor se vai vestindo de carne.
A rosa representa, também, recolhimento demorado em botão, abrindo espetacularmente em flor depois de longa espera. Assim, também Maria foi botão, quando guardava o que via e ouvia no seu coração, meditando (Lc 2,41-52); e igualmente floresceu e perdeu as pétalas quando, ferida pelos próprios espinhos da missão que lhe fora confiada, assistiu, por amor e obediência, à tortura e morte daquele seu Menino que nutrira, protegera, criara e educara.

Maria é a rosa que condensa todas as caraterísticas próprias do feminino. Mais: ela é o próprio arquétipo e modelo da feminilidade na sua força silenciosa e inquebrantável.
Não obstante, os Evangelhos mostram-nos, por vezes, outras faces da feminilidade de Maria, a qual, além da força silenciosa, usa também a força da palavra.

Assim sucede nas bodas de Caná (Jo 2,1-12), quando, constatando a escassez de vinho para os convidados, exorta Jesus a remediar a situação.
A sua firmeza é confirmada logo depois: Jesus replica que os dois nada têm a ver com o problema e ela mesma o incita a agir, dirigindo-se desta feita diretamente aos criados, ordenando-lhes que cumpram o que o seu filho lhes pedir.
No seguimento destas palavras da Mãe de Deus, Jesus Cristo comunicou ao mundo o seu primeiro sinal. Poderia não o ter feito? Poderia, evidentemente. No entanto, fê-lo, iniciando deste modo, pela palavra de Maria, a sua manifestação.

Maria mulher é, portanto, silêncio e palavra, recolhimento e ação, suavidade e firmeza.
Porque a rosa, se é de facto uma rosa, tem necessariamente, além das pétalas delicadas, um caule bem vigoroso e robusto, resistente a ventos e intempéries, pronto a brotar uma vez mais.

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