Maria Clara do Menino Jesus

A JMJ acabou, mas a nossa revista tem, ainda, dois meses para apresentar alguns dos Santos Patronos que ficaram de fora. Pelo menos, a prata da casa, como a Irmã Maria Clara do Menino Jesus que viveu no séc. XIX, uma época muito complicada para a malta jovem que queria consagrar a sua vida a Deus e aos irmãos.

O nome desta mulher não era Maria Clara, mas à boa maneira portuguesa e aristocrática, em conformidade com as suas origens, era bastante comprido e altissonante: Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Teles e Albuquerque.

Libânia, diríamos hoje, era uma “alfacinha”, tendo nascido a 15 de junho de 1843, na Quinta do Bosque, Amadora, naquela que hoje consideramos a grande periferia metropolitana de Lisboa. O pai, Nuno Tomás e a mãe Maria da Purificação, no dia 2 de setembro do mesmo ano, levaram a bebé à igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, para ser batizada.

Uma infância marcada pelas perdas

Libânia cresceu numa família nobre e crente. O pai era médico e ocupava-se dos doentes afetados pelas várias Epidemias que dizimavam a cidade de Lisboa. Em maio de 1856, quando tinha apenas 13 anos, Libânia vê morrer a mãe, vítima de cólera morbus. No mês de dezembro do ano seguinte morre também o pai, de febre amarela, contagiado pelo contacto permanente com os doentes. Antes tinha sido a vez do irmão mais velho e do tio-avó.

Podemos imaginar o desconforto e a dor no íntimo desta adolescente que se abre à vida. Estes e outros acontecimentos moldam o seu temperamento. Tornar-se-á uma mulher com espírito enérgico e independente, amadurecendo uma espiritualidade profunda e uma sólida firmeza de caráter. Tudo isto graças à fé e piedade que a família lhe transmitiu e que a ajudaram a enfrentar e superar estas perdas angustiantes. Mais tarde, revivendo estes momentos dolorosos da sua vida, escreve: “A Fé faz operar prodígios”.

Tendo ficado sem pais, Libânia é colocada no Internato da Ajuda, gerido pelas Filhas da Caridade Francesas (conhecidas hoje como as Irmãs de São Vicente de Paulo), destinado a crianças órfãs de famílias nobres. Estamos no final de 1857. Em 1862, há dois acontecimentos que interrompem a estadia de Libânia neste “asilo”: o incêndio no palácio velho da Ajuda, onde se encontravam as meninas órfãs e, logo a seguir, a expulsão de Portugal das religiosas, suas educadoras. A jovem donzela, com 19 anos de idade, é recebida na casa dos Marqueses de Valada, onde ao longo de cinco anos é preparada para enfrentar a vida social, mas em conformidade com os cânones da nobreza.

A descoberta da sua vocação: do luxo à pobreza

Libânia vive em casa da Marquesa de Valada, mimada como uma filha. Nada lhe falta. Aprende tudo o que era necessário para uma vida piedosa e de boas maneiras da alta sociedade. Aquilo que hoje nós etiquetamos de “betinho”. Mas quando deixa a “família de acolhimento”, Libânia procura algo de novo, em conformidade com um sentimento interior que a puxava a sair ao encontro dos mais necessitados que enchiam pracetas e periferias da cidade de Lisboa.

Em 1867, ingressa como pensionista na Casa de São Patrício, onde viviam as Irmãs Capuchinhas, orientadas pelo padre franciscano, Raimundo dos Anjos Beirão. Depois de dois anos, toma a decisão, e pede para se tornar religiosa: veste o hábito de Capuchinha de Nossa Senhora da Conceição e assume o novo nome, de Irmã Maria Clara do Menino Jesus.

Um ano depois, a 10 de fevereiro de 1870, é enviada para o Convento de Nossa Senhora das Sete Dores, em Lalais, França, para aí fazer o Noviciado e com o projeto de poder fundar mais tarde uma nova Congregação em Portugal. Um ano depois professa, em França, e regressa a Lisboa, criando em São Patrício um Noviciado filial de Calais. Nasce assim a primeira Comunidade das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e, cinco anos depois, a 27 de Março de 1876, era aprovada pela Santa Sé.

Irmã Maria Clara do Menino Jesus em quase trinta anos de vida religiosa recebeu na sua Congregação cerca de 1000 jovens mulheres que se consagraram à vida social em Portugal, numa época de profundas transformações sociais e de grande hostilidade para com as ordens religiosas. Inspiradas pela Madre Maria Clara, as irmãs fundaram mais de 142 obras, distribuídas por hospitais, enfermagem ao domicílio, creche, escolas, colégios, assistência a crianças e idosos, cozinhas económicas, etc. Em Portugal e lá fora, da América Latina, à África e Ásia, por onde se estenderam as obras missionárias das Irmãs, há mulheres que consagram a sua existência a cuidar do pobre, do doente, do desvalido com a ternura e a misericórdia de Deus.

A Irmã Maria Clara do Menino Jesus faleceu no convento das Trinas, em Lisboa, no dia 1 de dezembro de 1899. Tinha apenas 56 anos, mas bem preenchidos – da nobreza à pobreza – vítima de doença cardíaca, asma e lesão pulmonar. Uma donzela que não se poupou. Desde 1988, o seu corpo repousa na cripta da Capela da Casa Mãe da Congregação, em Linda-a-Pastora, Queijas.

Uma nota final

Tive a graça de estar presente no dia da sua beatificação, a 21 de Maio de 2011, no Estádio do Restelo, numa celebração cheia de coreografias realizadas pelas suas filhas-irmãs vindas dos vários continentes.

Hoje quando nos levantamos, de manhã, a primeira tentação é ver logo se há mensagens ou notificações importantes no telemóvel. A jovem e órfã, Libânia-Maria Clara, não tinha naquela época um iPhone, mas deixou alguns posts que te podem ajudar no teu caminho neste tempo marcado por grandes desafios.

Posts da Irmã Maria Clara

  • “O olhar de Deus está poisado sobre nós!”
  • “O que vem de Deus concorre sempre para o nosso bem!”
  • “O sol da justiça pode eclipsar-se por um momento, mas é para reaparecer com mais esplendor!”
  • “Sosseguem! Deus pensa em cada um de nós em particular!”

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