O Brilho das Cores da Fraternidade

Quando o Papa Francisco pediu a toda a Igreja para assumir a “caminhada sinodal” como característica da sua própria maneira de ser e de estar no mundo, houve certamente uma resposta positiva, como se tratasse de mais um exercício de prática pastoral a ser implementada, necessária para a situação atual da Igreja, mas, talvez, não houve a consciência de entrar num processo de renovação profunda de todas as estruturas da Igreja ou, melhor, de assumir verdadeiramente o que constitui a “alma” e a natureza da Igreja.

Na verdade, depois de um ano de encontros, de reflexão e de propostas, que tornaram familiar o termo “sinodalidade”, notam-se já sinais e tentativas de progressiva normalização e regresso ao que foi consolidado desde séculos.

Os membros das Ordens e Congregações de Vida Consagrada, ao oferecerem a sua contribuição em vista da Assembleia Geral do Sínodo de 2024, manifestaram as características de uma Igreja sinodal, que a vida consagrada alberga no seu interior. Referimos sucintamente:

A Igreja sinodal é uma Igreja em saída, que tem sempre as portas abertas não só para sair, mas também para acolher os pequenos e vulneráveis, os mais necessitados, todos. É uma Igreja inovativa, em rede com outros atores sociais, que luta por um mundo mais humano, conforme o Reino de Deus proclamado por Jesus. É uma Igreja em discernimento de colaboração, porque quem não se conectar com os outros, nunca encontrará o verdadeiro caminho. É uma Igreja sem clericalismos, onde todos juntos acolhem os ‘leaders’ que o Espírito suscita, sobretudo entre os jovens e as mulheres. A Igreja sinodal olha para a realidade com os olhos de Deus e está assente na base da vocação comum de todos os fiéis: sermos filhos de Deus e irmãos e irmãs entre nós. A Igreja de Jesus é o povo de Deus e não o povo dos ‘clérigos’ de Deus. A Igreja de um novo paradigma, não piramidal, mas circular e horizontal: Igreja participativa, que dá testemunho, cheia de compaixão, inclusiva, unificada, transformadora; Igreja da escuta, Igreja do povo. Igreja em transformação através da escuta, da tolerância, da colaboração inter-religiosa, da inclusão e da comunhão. A sinodalidade eclesial pede a todos nós para vivermos em fraternidade, renunciando à autorreferencialidade. Este sonho de sinodalidade requer uma conversão ao Espírito Santo, uma Igreja conduzida pelo Espírito e que caminha com o Espírito. Estamos conscientes que há ainda muito caminho a fazer para viver e anunciar a alegria do Evangelho, para alcançar a fraternidade universal vivida em relação fraterna e correspondente à ecologia integral.

Revista Testimoni, 12, 2022


De entre os Institutos de Vida consagrada, destaca-se a Família Franciscana que, em Portugal, abrange mais de vinte institutos, agrupados nas três Ordens Franciscanas: 1ª Ordem: os Frades (Menores, Menores Capuchinhos e Menores Conventuais); 2ª Ordem: as Clarissas (12 mosteiros); 3ª Ordem (Ordem Franciscana Secular e Institutos Consagrados de inspiração franciscana).

Toda esta grande Família nestes anos, de 2023 a 2026, vai celebrar um “Centenário Franciscano”, articulado e celebrado em vários centenários, que assinalam 800 anos de vários acontecimentos:

  • Regra Bulada e Natal de Greccio (2023);
  • Os Estigmas (2024),
  • O Cântico das Criaturas (2025),
  • A Páscoa de Francisco (2026).

Não se trata de celebrar simplesmente as ocorrências citadas, mas, sobretudo, redescobrir a espiritualidade de comunhão que une todos aqueles que reconhecem em S. Francisco e em Santa Clara uma paternidade / maternidade espiritual. Uma oportunidade preciosa para reavivar a riqueza do carisma franciscano com um olhar profético virado para o futuro.

O ‘Poverello’ foi capaz de reconhecer que tudo na sua vida era um dom gratuito do amor de Deus, como ele próprio afirma no seu Testamento: «O Senhor deu-me a graça de começar a fazer penitência… o Senhor deu-me irmãos… o mesmo Altíssimo me revelou que devia viver segundo a forma do Santo Evangelho». Ele não só recebeu os dons divinos, mas também escolheu devolvê-los, por isso, hoje, 800 anos depois, podemos celebrar como Família Franciscana estes cinco centenários que nos convidam a viver segundo a lógica do amor acolhido, que se torna doação e restituição.

Carta da Conferência da Família Franciscana, janeiro 2022

Podemos mesmo afirmar que a Família Franciscana é um “pequeno laboratório sinodal”, no sentido em que os vários ramos e reformas que surgiram ao longo dos séculos, constituem um desafio para que a diversidade nunca represente uma divisão, mas um crescimento da comunhão, através do brilho das cores da fraternidade.

Este primeiro “Especial” da revista Mensageiro de Santo António dedicado ao “Centenário Franciscano” abre espaço à primeira Ordem franciscana, constituída pelos Frades Menores, pelos Frades Menores Capuchinhos e pelos Frades Menores Conventuais. Um frade de cada um dos ramos apresenta a sensibilidade atual da sua família à proposta sinodal da Igreja e ao seu envolvimento na sociedade.

Foto da capa: https://www.ofm.org/

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