Caros leitores: ultimamente, tenho-vos falado da caridade que em nome de Santo António se continua a realizar no mundo. Hoje, queria ir à raiz de tudo isto: Santo António. Queria contar um acontecimento muito simples, que eu presenciei, mas que considero significativo.
No final do mês de junho estive em Itália para participar no Capítulo Provincial dos Frades Franciscanos Conventuais. Estive em Camposampiero, lugar onde Santo António teve a visão do Menino Jesus e onde passou o último mês da sua vida. Antes de regressar a Portugal, consegui ir à Basílica de Santo António, em Pádua. Fui visitar o Santo e, como todos os peregrinos, coloquei a mão na pedra do túmulo. Por causa da Pandemia, a Basílica tem menos visitantes, por isso pude ficar bastante tempo a rezar. Falei muito com Santo António, entregando-lhe tantas intenções que me tinham sido confiadas e, mais uma vez, pedi ao amigo António que me acompanhasse sempre no meu caminho. Pedi-lhe que me ajudasse a ser um bom franciscano, como ele foi.
Enquanto lá estava em silêncio, dialogando com António, aproximaram-se duas pessoas. Intuí serem mãe e filho. A mãe, aproximava-se do túmulo com grande devoção, como quem tinha um grande pedido para fazer a Santo António. O filho, vinha um pouco distraído e com ar de quem estava perdido num lugar estranho, desconhecendo o que estava ali a fazer, sendo apenas puxado pela mãe. Ela colocou a mão no túmulo e rezou com grande profundidade. Dava para perceber que tinha um pedido grande para fazer ao Santo e cumpriu aquele gesto duma forma que só as mães sabem fazer. Depois, olhou para o filho e convidou-o a fazer o mesmo gesto. Senti o filho embaraçado, sem saber bem o que fazer e o que aquilo significava. Com uma certa timidez, recusava cumprir aquele gesto e fazia de conta que tocava como quem joga ao “toca e foge”. Então, ela parou, colocou a sua mão na pedra do túmulo e voltou a insistir.
Com timidez, o jovem tocou com a mão no túmulo e encostou a cabeça. Depois, começou a apertar a mão com mais força. De repente, deu um suspiro como se tivesse sido vencido, como se tivesse sido abraçado. Levantou a outra mão e encostou-a também ao túmulo com grande intensidade. Foi como se o abraço do Pai Misericordioso o tivesse conquistado. Não sei o que pensava, não sei o que o levou ali, mas ele tocava no túmulo com uma força cada vez maior. E os suspiros continuavam. As lágrimas caíam. Aquelas lágrimas que lavam e curam. Algum tempo depois, retirou as mãos e avançou abraçando a mãe. Porém, era evidente que ia transformado, algo tinha mudado.
Não sei o que tinha acontecido antes e não sei onde está agora. Pormenorizar mais, seria apenas a minha imaginação a falar. Mas senti que, para aquele jovem, encontrar-se com Santo António transformou a sua vida. António tocou-lhe o coração. Aquela mãe levou-o ali e António levou-o a Jesus.
Esta é a obra de António, que continua há séculos, ali, na Basílica. Tantas pessoas anónimas que por ali passam trazem as suas histórias e regressam a casa modificadas.
Quando fiz o meu Noviciado naquele lugar, no ano 2006, passei algumas horas junto ao túmulo. Teria muitas histórias semelhantes a esta para vos contar. Isto, diz-nos quem é António hoje. António continua a falar ao mundo e aos jovens. Sejamos nós como aquela mãe! Com a capacidade de levar os jovens a Quem lhes possa tocar verdadeiramente.
Foto da capa: Basílica de Santo António de Pádua, túmulo do Santo. Frei Roberto Gottardi e Frei José Carlos Matias junto ao túmulo de Santo António.