Olhai os lírios do campo

A Palavra de Deus

Observai como crescem os lírios do campo; não se afadigam nem fiam. Digo-vos que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um deles.
Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, quanto mais a vós, gente de pouca fé?
Por isso não vos preocupeis, dizendo: “o que havemos de comer?”, ou “o que havemos de beber?”, ou “o que havemos de vestir?”, pois os pagãos é que procuram tudo isso. O vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso.
Procurai, primeiro, o reino de Deus e a sua justiça; e tudo isso vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o amanhã, porque o amanhã preocupar-se-á consigo próprio. A cada dia bastam os seus males.

Mt 6, 28-30

A palavra de Santo António

Salomão, em toda a sua magnificência, não se vestiu como uma destas flores.
Nos lírios há três propriedades: medicina, candura e perfume.
A medicina está na raiz, a candura e o perfume na flor.
Simbolizam os penitentes, os pobres de espírito, que mortificam o corpo para evitar os vícios e as paixões, que possuem a humildade de coração para reprimir o cancro da soberba e se vestem com a candura da castidade e o perfume da boa reputação.

Chamam-se lírios do campo, não do deserto ou do jardim.
No campo ressaltam duas coisas: a solidez da santidade e a perfeição da caridade.
O campo é o mundo, onde manter viçosa a flor é tão difícil, quanto glorioso.
No deserto florescem os eremitas, que se acautelam do convívio humano.
E no jardim fechado do mosteiro florescem os monges, de que a humana guarda os acautela.
Mas é mais glorioso florescer no campo do mundo, onde facilmente perece a dupla graça da flor,
a saber, a beleza de uma vida de bem e o perfume do bom nome.
Por isso, Cristo gloria-se de ser flor do campo, quando diz no Cântico dos Cânticos:
“Eu sou a flor do campo”.

Também Maria Santíssima, sua Mãe, se pode gloriar de não ter perdido, no meio mundo, a graça da flor, não tendo sido, nem reclusa, nem monja, pois é mais glorioso florescer no mundo, do que num jardim resguardado ou no deserto.

Sermões de Santo António, XV Domingo depois do Pentecostes

Aprofundemos

No seu comentário ao pequeno texto de Mateus, Santo António oferece-nos o significado do símbolo do lírio que o caracteriza: a sua cor é inimitável e as suas qualidades traçam um programa de vida para quem escolheu “fazer penitência” como Francisco e o próprio António.

Nada pode imitar as cores das flores, nem a púrpura do rei, nem a tinta do tecelão. O seu valor medicinal, a sua brancura e o aroma definem um estilo de vida cristã.

Mas onde cresce melhor o lírio: na solidão do deserto, como os eremitas que fogem do contacto humano? No jardim fechado de um mosteiro, protegido pela regra? Não será antes no campo do mundo, onde se corre o risco de perder a beleza de uma vida de bem e o perfume da boa fama?

O próprio Cristo se definiu como a flor do campo: “Eu sou a flor do campo”, diz no Cântico dos Cânticos (2,1).

E Maria, sua mãe, pode gloriar-se por não ter perdido a graça da flor do campo, embora não tivesse vivido nem em clausura (na Idade Média, estas mulheres eram estimadas pela santidade e pela virtude; viviam numa cela, com uma janela virada para o altar e outra para o mundo para aconselhar reis e poderosos e defender os pobres), nem como freira. Ela preferiu viver no mundo, embora fosse mais perigoso.

Com efeito, no mundo há uma luta contínua que fortalece a santidade. O facto de os lírios serem chamados “do campo”, mostra que é ali que se vive a caridade perfeita, porque se está exposto a todos os que quiserem colher esta flor.

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