De mãos trémulas
Mãos que procuram mãos
Peço notícias de Deus
Chegou o tempo
De colher como o trigo nos campos
O enigma
Da hora matinal da existência
Chegou o tempo
De encher os quatro cantos da alma
Da palavra entreaberta na bruma
Onde caiba a carne violada da distância
Chegou o tempo
De saber onde é o céu
Não o desabitado
Furado pelas naves espaciais
Em que o desespero se fez silêncio
Em que a alegria desaguou nas enseadas do alheamento
Em que não se ouvem acordes
Nem sequer de um ciciar medroso de lábios
Mas o outro
De que somos caminho
Passagem
Verdade em viagem
De mãos trémulas
Mãos que procuram mãos
Peço notícias de Deus
Ou das nuvens que O algemam
Entre soluços de sombras
Manuel Sérgio
Foto da Capa: Peregrino muçulmano na montanha al-Noor, durante a peregrinação anual do Hajj a Meca, Arábia Saudita, 15 de agosto de 2018. Foto EPA/Sedat Suna.