Santo António em nó de pinho

Santo António é um dos santos mais conhecidos em todo o mundo. A partir do século XV, a evangelização portuguesa levou a devoção a Santo António a todos os pontos do globo, e ainda hoje é celebrado na Índia, em África, na Austrália ou por todo o continente Americano.

No Brasil, permanece um dos santos mais populares e o seu culto é profundamente marcado pela cultura popular, através de um sincretismo religioso que integrou elementos tradicionalmente presentes na religiosidade portuguesa, com elementos de influência africana e indígenas locais.

A imagem de Santo António em nó de pinho é disso um testemunho. Tem origem na manifestação da devoção proveniente do antigo reino do Congo em África, cuja conversão ao catolicismo dos chefes congoleses no final do século XVI levou à incorporação de elementos cristãos na religião tradicional local. Aqui, a imagem de Santo António foi transformada num amuleto que trazia boa sorte para o seu proprietário. Designadas como Toni Malau ou “Santo António da boa sorte”, eram pequenas imagens esculpidas em marfim, madeira ou em metal, e integravam elementos cristãos mesclados com a religião tradicional dos bacongos do grupo étnico bantu.

A chegada dos bacongos ao Brasil, levados para o trabalho escravo nas fazendas de café do Vale do Paraíba na região de São Paulo, foi acompanhada também por esta devoção a Santo António, manifestada através de pequenas esculturas talhadas em nó de pinho, a parte mais dura do pinheiro (árvore rara no vale do rio Paraíba) que o aproximava do ébano africano, invocando uma memória de uma religiosidade ancestral. Estas peças, agora sobretudo presentes em coleções e objeto de estudos académicos, são também símbolos de um importante legado da arte afro-brasileira.

Foto da capa: Santo António com o Menino Jesus, Escultura, 9,5 cm altura, c. 1830, Nó de Pinho, MLSA.ESC.0242

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