Há tanto para dizer que ficamos paralisados… Entre a poeira dos que nada viram e a euforia de quem viu o impossível gostaria de deixar umas notas soltas.
1. O peso dos números
Eles são linguagem, palavra aberta e incontestável. São resposta a um apelo. Tanto podem atingir a profundidade mais íntima de quem participa como quedarem-se na superfície epidérmica de quem apenas passa pela vida duma forma distraída. Um acontecimento desta magnitude gera, naturalmente, irritação e incómodo para uns e solidificação de experiências profundas para outros.
2. A voz do silêncio
O silêncio-palavra. Palavra-mensagem. Interiorização do que se vive e deslumbramento diante do mistério. Na Adoração-vigília, no Parque Tejo, o silêncio de 1 500 000 jovens e o potencial silêncio de 590 000 000 de lares com sinal aberto. Não só na Vigília. Outros momentos de profundo silêncio nas diferentes celebrações.
3. A força da palavra
O Papa Francisco, sem constrangimentos de idioma, é, ele mesmo, mensagem de novidade e de esperança. A sua palavra percorre os caminhos da poesia e da teologia, inventa parábolas, rejuvenesce com a alegria e o sonho. Pode arrumar os papéis porque a palavra vem não só do que pensou mas do que vive.
Desafios programáticos
A palavra do Papa não é palavra de circunstância é desafio que implica um novo horizonte, uma conversão pessoal e um projeto renovador não apenas para a Igreja mas também para o mundo da economia, da ecologia, da justiça, da paz.
Nota da Redação: Este artigo continuava com várias citações dos discursos do Papa durante a JMJ. Optámos por colocar essas citações ao longo deste especial, em caixas de cor amarela. As mensagens do Papa dirigem-se aos governantes, aos servidores da Igreja, aos universitários e, de um modo especial, aos jovens.
“Queridos jovens, boa tarde!
Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Chamou-nos a todos desde o início da vida. Chamou-vos pelos vossos nomes. Como ouvimos na Palavra de Deus, Ele chamou-nos pelo próprio nome. Chamados pelo nome: tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida, o sentido daquilo que sois. Tu foste chamado pelo teu nome: tu… além, tu… ali, tu… aqui, e também eu, todos nós fomos chamados pelo próprio nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados pelo nome.
Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo meu nome. São palavras escritas no coração; pensemos, pois, que estão escritas dentro de cada um de nós, nos nossos corações, e formam uma espécie de título para a tua vida, o sentido do que és, o sentido daquilo que cada um é. Foste chamado pelo teu nome. Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, antes das sombras, das feridas que trazemos dentro de nós, recebemos um chamamento. Fomos chamados, porquê? Porque amados. Fomos chamados, porque somos amados.
É belo! Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar, para encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única, original. Cada um de nós é único e original, e não chegamos sequer a vislumbrar a beleza de tudo isto.”
…
“Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós”.
Discurso de boas vindas, Parque Eduardo VII, 3 de agosto

Foto da capa: Colina do Encontro, Parque Eduardo VII, 4 de agosto de 2023. Foto MIGUEL A. LOPES/LUSA/POOL.
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