O recém santo, Papa Paulo VI, homem de espírito humilde e nobre, de grande visão do futuro, percebeu muito bem que, para renovar a Igreja, era necessário não apenas um novo código de leis e uma nova reestruturação do “organismo igreja”, mas e, sobretudo, um renovado testemunho da alegria do Evangelho.
Escreveu-o na Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi:
O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas mais do que os mestres ou, então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas.(…) Será pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais, evangelizar este mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade (EN 41).
Estas palavras, passados mais de 40 anos da sua publicação, continuam a ser provocadoras para a Igreja de hoje, mergulhada em graves problemas, quer no seu interior, quer na sua missão evangelizadora. Hoje, a Igreja tem pouco impacto no mundo; parece mais preocupada em resolver os seus problemas internos do que em “sair para fora”, ao encontro dos pobres para lhes comunicar o amor e a misericórdia de um Deus que, em Jesus, se tornou pequeno e pobre.
O número dos pobres aumenta, os recursos da terra estão mal distribuídos e são esbanjados, a “casa comum” é objeto de exploração e de rapina. Fala-se de desastres ecológicos, de mutações climáticas e de um futuro cada vez mais sombrio. Os homens estão marcados pelo medo e pela insegurança e, no meio de uma comunicação muitas vezes falsa e enganadora, caem facilmente nas armadilhas das forças do mal.
É urgente que os cristãos recuperem a sua missão de serem “sal da terra e luz do mundo”, através de uma vida solidária e acolhedora, simples e partilhada, uma vida marcada pelo diálogo, pelo respeito, pela compreensão, pela misericórdia.
Eis o convite que o Papa Francisco não se cansa de repetir: precisamos de ser cristãos de verdade, isto é, sem medo de sujarmos as mãos para nos fazermos próximos do outro, abertos às surpresas de Deus e que, como Jesus, “pagam pelos outros”!