Um semeia, outro Rega, outro Colhe

Um pouco por acaso, acabei por estar presente na chegada dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) à Diocese de Coimbra, que aconteceu recentemente. Naqueles momentos em que a Cruz e o Ícone chegaram e foram expostos, ao som da melodia do Hino da JMJ Lisboa, emocionei-me porque, de repente, estava novamente em Toronto, Colónia e Madrid a reviver todas as emoções, sentimentos e experiências pelos quais passei nas JMJ em que participei.

A primeira JMJ a que fui, com 19 anos, foi um marco muito importante na minha caminhada de Fé. Foi aí que tomei verdadeiramente consciência da universalidade da Igreja e da diversidade que nela existe. E essa vivência e consciência moldou o meu crescimento como cristã e aquilo que foi (e é) o meu Serviço na Igreja.

Foi depois da JMJ de 2005 que, aceitando dois convites diferentes, um a nível paroquial e outro diocesano, “mergulhei” na Pastoral Juvenil onde cresci, dei e recebi durante 15 anos.

Por vezes, o trabalho em Pastoral Juvenil pode ser muito frustrante: pela falta de compromisso dos jovens; pelo cansaço de quem tem uma profissão e paralelamente pensa, projeta e prepara atividades e dá o seu tempo e o seu empenho; pelas atividades pensadas como sendo uma coisa espetacular e que se verifica serem uma pedrada no charco.

Por outro lado, há atividades que sentimos como fracas ou incompletas quando as preparamos e que acabam por ter um entusiasmo e retorno por parte dos jovens incrivelmente melhor do que esperávamos, atividades com casa cheia quando pensávamos que não teríamos quase ninguém e, ainda. os jovens que vemos crescer de uma forma tão profunda e tão entregue.

Há sempre uma gestão de emoções a fazer naquilo em que colocamos todo o nosso coração e todo o nosso empenho. Um querido amigo, quando me via mais frustrada relativamente ao trabalho pastoral, dizia-me “um semeia, outro rega, outro colhe os frutos; nem sempre iremos ver os frutos do nosso trabalho”. Nesta gestão emocional e crescimento pessoal, tentei dar aquilo que fui recebendo e de que me fui apercebendo com o meu próprio Caminho.

Que não há medida para o amor de Deus por nós. Que há lugar para todos no colo de Deus e todos somos igualmente importantes. Que a Igreja é muito maior e mais diversa do que aquilo que encontramos dentro das paredes da nossa sala de reuniões ou da nossa paróquia. Que o Outro está sempre à espera do nosso encontro, que a Igreja não são “eles”, mas “nós”. E se é verdade que não posso falar por todos nem mudar tudo o que está mal na Igreja, também é verdade que há uma parte que me compete e pela qual sou responsável, porque faço parte deste todo.

Grupo de jovens projeto TAU, Unidade Pastoral de Santo António dos Olivais, Coimbra.
A Igreja é muito maior e mais diversa do que aquilo que encontramos dentro das paredes da nossa sala de reuniões ou da nossa paróquia. Grupo de jovens projeto TAU, Unidade Pastoral de Santo António dos Olivais, Coimbra.

Que nós, cristãos, fazemos parte do mundo e da sociedade. A larga maioria dos temas que abordávamos nos nossos encontros eram questões em discussão na sociedade civil, situações que tinham acontecido recentemente, sempre com a questão de fundo “o que é que Jesus faria nesta situação? O que é que o Evangelho nos diz sobre este assunto?”.

Às vezes olho para trás e só consigo ver aquilo em que devia ter sido e feito melhor. Em que deixei o cansaço, a frustração, a minha humanidade terem o peso maior. Mas noutras alturas, olho para os “miúdos” que “animei” − alguns que se tornaram amigos e com quem partilho muito da minha vida, outros que ainda vou encontrando ou sabendo notícias deles − e sinto um orgulho tremendo nos adultos em que se tornaram (ou se estão a tornar), com a esperança de ter podido contribuir para a riqueza imensa que habita neles e que eles põem ao serviço de Jesus, na Igreja e na sociedade.

Foto da Capa: Peregrinação dos Símbolos JMJ 2023 na Unidade Pastoral de Santo António dos Olivais, 25 de abril de 2023. Foto MSA.

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