A experiência dos últimos tempos tem deixado suficientemente clara a necessidade do exercício de um olhar global para a existência, para a sociedade e para a história. Se há coisa que se vai tornando cada vez mais evidente, apesar de muitos teimarem em não querer reconhecer isso, é a de que todos estamos interligados nesta nossa aventura humana.
É verdade que ainda temos sociedades muito centradas no eu e nos direitos e necessidades desse eu, o que talvez não seja de estranhar quando olhamos para o longo período da história humana em que o eu não contava muito e se diluía e esquecia no conjunto do grupo, da tribo, do povo, da nação.
Talvez este seja o momento em que somos chamados a equilibrar essa polarização não centrando tudo no grupo, nem no indivíduo, mas procurando o melhor bem possível para todos e cada um, o que, como sabemos, é aquilo que nos é proposto pela reflexão desenvolvida no âmbito do Pensamento Social Cristão e se concretiza na promoção do bem comum, que é um dos seus princípios estruturantes.
E se isto é hoje um desafio global para toda a humanidade, é-o também, e de um modo muito particular, para aqueles que se dizem seguidores de Jesus Cristo. Neste âmbito, julgo mesmo que as Igrejas cristãs se encontram perante um momento decisivo. O modo, como juntas, forem capazes de responder aos desafios que esta única aventura humana levanta será sinal a ser tido em conta quando quisermos verdadeiramente perceber se estiveram à altura do momento presente.
Tenho consciência de que esta afirmação pode parecer, a muitos, exagerada, mas julgo que o futuro do cristianismo não se joga só na maneira como dá sentido à vida daqueles que se dizem cristãos, mas também no modo como os cristãos cuidam da casa comum e contribuem para a construção de um mundo onde haja lugar para todos e onde ninguém seja ferido na sua dignidade humana.
Programa Eco Igrejas Portugal
Na linha da resposta a este enorme desafio quero destacar o passo que, no passado dia 12 de junho, foi dado com a assinatura de um Memorando de Entendimento entre vários parceiros para o desenvolvimento e concretização do Programa Eco Igrejas Portugal.

Neste Memorando, a Rocha Portugal, a Aliança Evangélica Portuguesa, o Conselho Português das Igrejas Cristãs – COPIC, a REDE Cuidar da Casa Comum e a Conferência Episcopal Portuguesa comprometem-se a:
- Promover a ética da sustentabilidade, contida nos princípios ecoteológicos do cristianismo, na prática concreta das comunidades cristãs;
- Atender a uma adequada formação ao nível dos respetivos fundamentos bíblicos e teológicos, em particular no âmbito das gerações mais jovens, em ordem ao compromisso concreto na salvaguarda da criação;
- Partilhar exemplos de boas-práticas que possam ser tidos em conta na tomada de decisão orientada para a sustentabilidade ecológica das comunidades cristãs;
- Facilitar o acesso à opinião de peritos em transição ecológica que efetuem recomendações concretas no âmbito de uma ecologia sustentável e integral;
- Promover a comunicação da sustentabilidade das comunidades cristãs, locais de culto e equipamentos em Portugal;
- Criar impactos ambientais positivos de grande escala, não só através da participação dos públicos internos das comunidades cristãs, mas também do público em geral em ações ambientais concretas e mensuráveis.
- Contribuir para a mudança de estilos de vida na linha de uma ecologia sustentável e integral.
Com este Memorando, assinado na celebração dos 50 anos do COPIC, o que é também por si muito significativo, inicia-se um trabalho que me parece ser mesmo muito importante. Uma das lógicas que sustenta este entendimento para a ação é o carater participativo, num trabalho e reflexão conjuntos, entre várias comunidades cristãs, assumindo o campo da ecologia integral como um caminho de testemunho comum.
Como membro da REDE Cuidar da Casa Comum tive a graça de poder participar no processo que levou à assinatura deste Memorando, não tendo receio em reconhecer como a presença do Espírito nos foi impulsionando nessa direção. Na verdade, o momento histórico que a humanidade está a viver exige que as comunidades cristãs não se demitam das suas responsabilidades. Assumir, em conjunto, o cuidado da casa comum, para que ela possa ser habitação para todos e promover a justiça social, para que ninguém seja descartado, são exigências da própria fé cristã.
Podermos responder a estas exigências em conjunto e de mãos dadas, certamente, será oportunidade para um testemunho mais credível do Evangelho.
Fotos: Assinatura do Memorando de Entendimento para o desenvolvimento e concretização do Programa Eco Igrejas Portugal, 12 de junho de 2021. Fotos Agência Ecclesia.
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