Este é o tempo!

No dia 18 de Novembro passado teve lugar, em Viseu, o IV encontro Nacional de Leigos. No convite que a Conferência Nacional de Associações de Apostolado de Leigos dirigiu a todos os cristãos podia ler-se:
Hoje, com atualidade e significado, o Cristianismo desafia cada homem e cada mulher a viver o tempo presente, nos espaços concretos e diversos da experiência humana, onde se pode esperar contra toda a esperança, trabalhar pela justiça e pela paz, amar as pessoas uma a uma!

Na verdade, este parece-me ser o tempo em que se joga, de um modo muito significativo, o nosso futuro comum. Sei bem que em todos os tempos algo do futuro se joga, mas isso não nos pode impedir de reconhecer o facto de haver momentos onde isso acontece de uma maneira mais evidente. Este que estamos a viver, já o tenho até escrito aqui, parece-me ser, com toda a evidência, um desses tempos.

A Igreja que somos é uma realidade poliédrica

Por isso reconheço na dinâmica que este encontro nacional lançou um momento privilegiado para fazermos uma dupla experiência: por um lado, percebermos que a Igreja que somos é verdadeiramente uma realidade poliédrica (para utilizar uma imagem bem-querida ao Papa Francisco), e que muita da sua riqueza reside mesmo no facto de ela ser poliédrica.

Como é importante percebermos que o cristianismo é também universal por causa disso mesmo. Nele diversos estados de vida, distintos carismas, vários ministérios e serviços encontram um espaço comum para habitar.

E não é só um espaço que por motivos de força maior tem de ser partilhado, mas um espaço que é mesmo de todos. Uma casa comum, onde todos se podem reconhecer membros da mesma família, porque é mais aquilo que une do que aquilo que separa. Um espaço onde todos estão, porque convocados pelo mesmo senhor Jesus Ressuscitado. E nessa consciência reside a outra dimensão a que queria fazer referência.

Convocados por um único e mesmo Senhor

Quem convoca, chama e congrega é o mesmo e único Senhor. Cada movimento e associação de leigos não pertence a senhores diferentes. Na sua origem, na sua génese, está o mesmo Senhor. Foi ele quem primeiro interpelou os diversos ‘fundadores’.

Sempre que os diversos movimentos e associações laicais se esquecem disso, sublinhando só aquilo que é distintivo de cada um, correm o sério risco de se tornarem outra coisa que, mesmo podendo ser muito bonita, já não será cristã. O que lhes dá a sua identidade cristã é a sua referência explícita ao Senhor Jesus Cristo Ressuscitado. Cada um, depois, tendo algo de distinto, cada um sublinhando e destacando uma dimensão particular da riqueza imensa que o encontro com o Senhor é capaz de suscitar, mas todos tendo de remeter para essa mesma experiência de encontro com ele.

Este é o tempo oportuno para promover a esperança

Escultura da Natividade na porta de entrada da Basílica da Sagrada Família de Barcelona
Escultura da Natividade na porta de entrada da Basílica da Sagrada Família de Barcelona, projetada pelo arquitecto António Gaudi (1852-1926). Em dezembro de 2016, os responsáveis da basílica instalaram uma escada para que os visitantes pudesse ter uma visão privilegiada da fachada da Natividade.

Comunhão na diversidade, essa é a imensa riqueza que pode ser vivida e experimentada nestes momentos. O poliedro é isso mesmo. Mostra-nos a riqueza da diversidade, porque essa mesma diversidade permanece unida à volta de um polo congregador. Faltando esse polo o poliedro desagrega-se e deixa de o ser. Esta mesma diversidade é condição de possibilidade para que os cristãos possam estar nos diversos sítios onde a vida acontece.

Estou cada vez mais convencido de que a vida concreta das pessoas, com todas as suas vicissitudes e mesmo ambiguidades, não é aquilo que nos afasta do mistério de Deus, mas, pelo contrário, é aquilo que verdadeiramente nos avizinha.

Por isso, para os cristãos, não me parece que haja outra alternativa que não seja estar no coração do mundo, onde se está a jogar o nosso futuro comum enquanto humanidade.

Num tempo de tantas interpelações e dúvidas como o que estamos a viver, em que não vemos com clareza o futuro, é importante que assumamos, como cristãos, com coragem e ousadia, que este é o tempo oportuno para promover a esperança, para trabalhar pela justiça e pela paz, para amar as pessoas e amá-las uma a uma.

O Natal que vamos celebrar também a isso nos impele de um modo inequívoco, uma vez que nele o próprio Deus assume que este é o tempo oportuno.

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