O canto da rola

A Palavra de Deus

Agora vou para aquele que me enviou,
e ninguém de vós me pergunta:
“Para onde vais?”
Mas, por vos ter anunciado estas coisas,
o vosso coração ficou cheio de tristeza.
Contudo, digo-vos a verdade:
é melhor para vós que Eu vá,
pois, se Eu não for,
o Paráclito não virá a vós;
mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei.

Jo, 16, 5-7

A palavra de Santo António

A rola, pelo canto, chama-se ave pudica. Se for privada de seu companheiro, não se associa a outro; anda solitária e arrulhando; ama a solidão; no inverno desce aos vales e depenada habita nos troncos côncavos das árvores; no estio, porém, sobe às montanhas e ali escolhe um lugar para si.

O justo, enquanto vive neste corpo, é peregrino do Senhor, privado de seu amigo e, por isso, caminha solitário, não misturado com a multidão confusa e gemendo. Ama a solidão do espírito e do corpo. No inverno da presente miséria, depenado dos bens temporais, contenta-se com objetos vis; mas quando vier o estio da eterna claridade, então voará para as montanhas da pátria celeste.

Festa da Purificação de Maria Virgem

Desta rola escreve Salomão no Cântico; “Ouviu-se o canto da rola na nossa terra” (Ct 2,12). O canto da rola é gemido e pranto. Cristo desceu para gemer e chorar; não se lê em parte alguma que se tivesse rido, para nos ensinar a gemer e a chorar.

Quando, porém, se aproximou o verão e começou a ferver a crueldade da perseguição judaica e se acendeu o calor da Paixão, voltou ao monte, quer dizer, ao Pai.

Interroguemos Cristo por qual caminho se vai ao Pai. Responderá: Pelo caminho da cruz.

Cristo teve dupla herança: uma da parte da Mãe: o trabalho e a dor; outra da parte do Pai: o gozo e o descanso.

Quarto domingo depois da Páscoa

Aprofundemos

Santo António menciona a rola três vezes nos seus sermões: nas duas festas da Purificação de Maria e no quarto domingo depois da Páscoa.

Esta ave, da família dos columbídeos, com a sua linha doce e harmoniosa, as suas cores suaves, o seu olho vivo, a sua vida solitária e a sua lealdade ao único companheiro, sempre foi o símbolo da simplicidade, da ternura e da lealdade. Além destes símbolos, o Santo acrescenta dois novos, que aplica a Cristo e aos cristãos: o vaguear por entre montes e vales e o canto, um misto de gemidos e choros.

A solidão de Cristo – Como a rola deixa os montes onde a vida floresce e se esconde nas cavidades das árvores, despojada do decoro de suas penas, assim Cristo desceu da glória do Pai para partilhar a nossa miséria e pobreza.

Da mesma forma, o canto da rola, um arrulhar de três sílabas, duas curtas intercaladas por uma longa, e que se assemelha ao gemido e ao choro, lembra que Jesus viveu a incompreensão e a perseguição dos homens; sempre se preocupou com a nossa salvação e mostrou-nos que para ter a herança de filhos, junto do Pai, é preciso seguir o caminho da cruz.

O cristão na solidão – Como Cristo, o cristão batizado, o religioso, o sacerdote, o que “procura a Deus”, os jovens e adultos que procuram valores mais profundos, sentem a necessidade de se retirar no segredo da sua consciência, para fazerem um balanço da sua vida e para se dedicarem ao essencial.

Mas como encontrar este “essencial” num mundo onde tudo tem o mesmo valor? “Vou enviar o meu Espírito – diz Jesus – que vos fará entender tudo o que vos leva a mim, que sou a vida e a verdade”.

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