Caminhada Sinodal – 3
Um reflexão em dois tons: escutar e preparar o que dizer propondo cenários de renovação e ancorar a reflexão na realidade presente
desta guerra absurda, sacrílega e repugnante.
Retomamos neste especial a reflexão sobre a sinodalidade. Fazemo-lo, desta vez, em dois tons que podem parecer distintos, mas que, em bom rigor, se completam e exigem, porque a sinodalidade não pode ser apenas, como já o dissemos, o exercício de algumas metodologias, por mais importantes e necessárias que elas sejam.
Num primeiro momento partilhamos uma proposta que, podendo ser formulada de um modo muito simples, implica a ousadia de perceber que o exercício da escuta pressupõe obrigatoriamente o exercício de falar e daí que façamos a proposta em jeito de provocação: preparar o que dizer. Que a participação de cada um nas assembleias sinodais seja também o resultado de uma preparação, de uma reflexão, de um dizer que recusa o que tem de ser ultrapassado, porque já não serve, e pensa e propõe cenários possíveis de caminho.
No segundo momento, e porque a sinodalidade para o ser verdadeiramente tem de estar ancorada na realidade presente, ensaiamos um exercício de reflexão que se atreve a pensá-la no contexto desta guerra absurda, sacrílega e repugnante.
Mas, o que tem a ver a guerra e a paz com a sinodalidade podemos perguntar-nos.
Não tenhamos dúvidas, a prática da sinodalidade no mundo, à semelhança da sinodalidade na Igreja, pode ser comparada ao caminhar da família humana, o que pressupõe um clima de diálogo que permita que as relações se desenvolvam num clima de confiança recíproca.
Sinceramente, não nos parece haver outro caminho possível. Também aqui a Igreja profeticamente é chamada a alargar os horizontes.
Claro que daqui decorre a responsabilidade de cada um por aquilo que na Frateli Tutti se apelida do “artesanato da paz” (cf. Nº 231).
Por isso não temos medo de afirmar: Não é Deus quem realiza por cada pessoa humana o seu labor próprio: não é Deus quem está em Auschwitz ou em Treblinka ou na Ucránia, mas os que agem segundo o mesmo bem que é Deus; então, através do ato humano de bem, Deus está presente. E por isso, a Ele, que é a fonte de toda a paz, não podemos deixar de implorar a coragem para o tornarmos presente.
E este é, no fundo, o cerne de qualquer possível sinodalidade: a comunidade de ação segundo o bem; o caminho em comum segundo o bem, que é, por ser segundo e para o bem, sempre, para Deus.
Saber escutar, querer falar – Inês Espada Vieira
Guerra, Paz e Sinodalidade – Francisco Vaz
Sentido e caminho: A escuta da voz de Deus no grito humano pela paz preparação para o caminho de vida – Américo Pereira