Artigo de Inês Santos e Gonçalo Oliveira
Fevereiro é um mês pautado por uma celebração mundialmente conhecida como o Dia de São Valentim, ou mais corriqueiramente, o Dia dos Namorados, e que se realiza sempre no dia 14.
Reza a lenda que São Valentim foi um bispo italiano que se rebelou contra as ordens impostas pelo imperador romano Cláudio II, ao celebrar casamentos durante a guerra. Cláudio acredita que os solteiros eram os melhores combatentes. Ao ser descoberto, São Valentim foi condenado à morte e, na prisão, apaixona-se pela filha de um carcereiro à qual escrevia cartas e assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”. É por isso que, no dia de aniversário da sua morte, quase dezoito séculos depois, os casais de namorados apelidam os seus parceiros de Valentim através da troca de cartões em que expressam o amor um pelo outro.
Naturalmente que esta é só uma das muitas versões que podemos encontrar, mais ou menos romantizadas, sobre este dia. Já antes de São Valentim existia uma festividade pagã, chamada de Lupercalia, que os romanos usavam para celebrar Pan e Juno, os deuses do amor, casamento e fertilidade. Julga-se que foi o papa Gelasius I, no século V, que terminou com esta festividade e dedicou este dia aos vários mártires São Valentim, que foram mortos neste dia pela sua devoção ao cristianismo no tempo da Roma pagã. Pensa-se que só mais tarde, no século XIV, é que se terá começado a fazer associações e adições românticas a este dia. Mas como todos sabemos, “quem conta um conto, acrescenta um ponto” e assim chegámos ao século XXI.
Hoje, o dia de São Valentim é dedicado às cartas e presentes entre apaixonados, jantares românticos à luz das velas, longas serenatas e surpresas pelas nossas caras metades e, claro, tudo aquilo que o consumismo nos convence a gastar para provar o nosso amor incondicional.
Afinal de contas, que história é esta do “amor” de São Valentim? Até se diz que “o amor anda no ar”! Mas estará mesmo, como se fosse um vírus benéfico que podemos facilmente apanhar? Também há quem diga que todo o amor pode ser condensado numa única fórmula química e que é tudo uma questão de hormonas e sinais elétricos. E depois há aqueles que dizem que só quem sente é que sabe o que é o amor. Já Luís de Camões afirmava que “o amor é fogo que arde sem se ver”!
Bem, sendo esta rubrica escrita por um rapaz de ciências e uma rapariga de humanidades, os autores pensaram em dar-vos as duas perspetivas.
Nas ciências exatas, onde reina o método indutivo, a fórmula química do amor é uma junção de três componentes: a dopamina, a serotonina e a ocitocina. Ou seja, o amor pode ser produzido em laboratórios. No entanto, não se deixem enganar pois um miligrama a mais de qualquer uma destas componentes pode gerar esquizofrenia, paranóia extrema ou insanidade.

Já no ramo das humanidades, o método empírico prevalece sob o indutivo, fazendo crer que o amor está presente em todas as experiências sensoriais que vamos vivendo e que nos permite reconhecê-lo (abraços, beijos, ouvir uma palavra amiga, um conselho, comer o que outra pessoa preparou com carinho, etc.). Desde há muitos séculos, que grandes escritores e filósofos tentam traduzir por palavras o que é a sensação do amor e do estar apaixonado. Também inúmeros músicos e compositores tentaram através de canções ou artistas através de pinturas e esculturas.
Atualmente, as pessoas, com maior destaque para as camadas mais jovens, formam imagens do que é o amor através de filmes, livros, músicas e das redes sociais. Em muitos casos, passa-se uma sugestão de que um amor perfeito é um amor somente a dois, ou seja, leva-nos a acreditar que a única forma de sermos socialmente aceites e, por consequência, aceitarmo-nos é ao ter o amor de uma cara-metade. No entanto, o amor é muito mais do que isso. É certo que também é uma das várias formas em que o reconhecemos, mas não prevalece sobre as outras.
Alain de Botton, escritor e filósofo inglês, diz-nos que muitas das coisas que deixamos para as relações amorosas, podem ser encontradas fora das mesmas. A intimidade não está reservada a uma única pessoa. Podemos ser vulneráveis, divertidos, apreensivos, destemidos com as várias pessoas com quem convivemos ao longo da nossa vida, sem lhe atribuir um estatuto de namorado/a. A intimidade é o ato dos nossos amigos e familiares que nos guiarem pelas nossas variadas fases ao estarem lá para nós. Pensar que devemos relegar todo este compromisso a uma única pessoa na nossa vida, para além de errado, é exaustivo e leva-nos ao erro. É por isso que o amor é mais que romântico. É filial, é fraterno, é incondicional.
Nós, os cristãos, sabemo-lo duma forma ainda mais vincada. O amor que conhecemos é o amor de Deus, que é infinito e está em todos nós. Quando falamos em amor, podemos descrevê-lo nas mais variadas formas e feitios, mas todas compõem a imagem de Deus, visto ser ele próprio amor. Amarmo-nos uns aos outros, é também amarmos a Deus.
Podemos dizer que o amor está no ar? Não é definitivamente como a maçã que apanhamos da árvore, mas é algo que ao longo da nossa vida vamos aprendendo a reconhecer ao nosso redor.
Sheila Heti, autora canadense, explica-nos que “nós fazemos da nossa vida algo significativo quando aplicamos esse sentido à mesma – não é inevitavelmente significativo pelo resultado das nossas escolhas”. Ou seja, não é somente através das nossas ações que vamos valorizar a nossa vida, mas sim ao termos um estado de espírito preparado para valorizar o presente que vivemos através das mesmas.
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